Uma corrida pelo “ouro digital” vem alterando o panorama de pequenas cidades nos Estados Unidos. Impulsionados pela demanda crescente por inteligência artificial, computação em nuvem e armazenamento de dados, desenvolvedores disputam terras, energia e água. Segundo análise do Goldman Sachs, quase 1% dos condados norte-americanos — cerca de 33 — concentravam 72% da atividade de data centers em julho de 2025, e o mapa muda quase diariamente.
Em Newton County, a pouco mais de 60 quilômetros de Atlanta, está o campus Stanton Springs da Meta, inaugurado em 2018. O complexo ocupa 1.000 acres, abriga oito edifícios — cada um com o comprimento aproximado de quatro campos de futebol — e possui cabos suficientes para ir à Lua e voltar. Ali, dados de Facebook, Instagram, WhatsApp e outras plataformas são processados ininterruptamente.
O local é um dos 26 data centers que a empresa mantém ou constrói atualmente nos Estados Unidos. “Em mais de 20 anos no setor, nunca vi tamanho foco em data centers”, afirmou KC Timmons, diretora de operações globais de sites da Meta.
Hoje, cerca de 400 profissionais de HVAC, elétrica, operação e tecnologia — em sua maioria recrutados na região — trabalham no campus. Desde que os primeiros prédios passaram a pagar impostos, em 2022, a Meta já gerou US$ 12 milhões em receitas para escolas e serviços públicos.
Na Bolsa de Nova York, as ações da Meta Platforms encerraram o pregão a US$ 673,42, alta de 1,80%.
Somente em 2024, autoridades de Newton County contabilizam 11 novos projetos de data center em diferentes fases de planejamento ou construção. A Amazon iniciou obras em um terreno comprado por US$ 25 milhões — cerca de US$ 50 mil por acre — abastecido pela Georgia Power. Em Social Circle, cidade que se estende por Newton e Walton counties e já abriga a Meta, sete empreendimentos adicionais foram zoneados sem um plano de uso do solo de longo prazo.
“É como montar um avião enquanto ele já está no ar”, comparou Serra Hall, diretora-executiva da Newton County Industrial Development Authority. De acordo com ela, a infraestrutura de fibra óptica instalada pela Meta, o fácil acesso à rodovia I-20 e a oferta de energia elétrica explicam a enxurrada de propostas.
Imagem: Sumner Park FOXBusiness via foxbusiness.com
Para a comissária do condado e corretora de imóveis LeAnne Long, entretanto, os benefícios prometidos nem sempre se concretizam. “Esses grandes desenvolvedores chegam com promessas lucrativas de zoneamento, água, eletricidade. É a maior cortina de fumaça que já vi”, declarou.
Moradores relatam preocupações com o ritmo das obras, o uso de água e os abalos provocados por detonações. Lisa Miller, 64 anos, vive perto de um antigo moinho de madeira que deu lugar a um canteiro da Amazon. “Uma vizinha ouviu a explosão e o teto da sala desabou”, contou.
A Amazon respondeu que seu investimento de US$ 11 bilhões criará milhares de vagas — de engenheiros de rede a trabalhadores da construção — e fomentará a inovação em IA. A empresa também firmou parceria com a rede pública de ensino local e com a ONG Goodr para abrir um mercado sem custo que fornece alimentos a estudantes. No mercado financeiro, os papéis da Amazon.com fecharam a US$ 229,53, avanço de 0,18%.
O Goldman Sachs projeta que data centers representarão cerca de 8% do consumo de eletricidade dos Estados Unidos até 2030, exigindo US$ 50 bilhões em nova capacidade de geração pelas concessionárias. A Meta se comprometeu a produzir mais energia renovável do que consome e a tornar-se positiva em água até 2030.
Apesar das apreensões, líderes locais e moradores concordam que o setor não deve ser rejeitado, mas planejado com cautela. “Pense bem antes”, aconselhou Lisa Miller. “Planeje. Não coloque um data center em cada pasto que estiver à venda.”