NOVA DÉLHI / KIEV, 22 de outubro de 2024 – A intensificação das compras de petróleo russo pela Índia e a posterior revenda de derivados ao mercado europeu estão reduzindo a eficácia das sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, afirmaram autoridades ucranianas e especialistas em energia.
Durante a visita do presidente russo, Vladimir Putin, à Índia nesta semana, ele e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciaram um programa de cooperação econômica até 2030, com foco em comércio, investimentos, construção naval, energia e minerais críticos. O gesto de proximidade ocorre enquanto refinarias indianas continuam a importar petróleo russo com desconto.
Sergei Aleksashenko, ex-vice-ministro das Finanças da Rússia e ex-vice-governador do Banco Central russo, hoje exilado nos Estados Unidos, disse à Fox Business que a estrutura do mercado mundial de petróleo torna inviável retirar completamente o produto russo sem provocar forte aumento de preços. Ele calcula que o país responda por 15% a 17% do petróleo comercializado internacionalmente e alerta que a escassez poderia elevar a cotação para US$ 120, US$ 150 ou até US$ 200 por barril. “O custo real de sanções plenas é alto demais para os governos ocidentais”, avaliou.
Dados de mercado confirmam o movimento: segundo a Bloomberg, o petróleo russo do tipo Urals vem sendo oferecido a refinarias indianas com redução de até US$ 7 por barril em relação ao Brent, após novas sanções norte-americanas desorganizarem rotas tradicionais. A Reuters informou que as refinarias da Índia buscam fornecedores russos não sancionados para aproveitar os menores preços.
O deputado ucraniano Oleksii Honcharenko declarou que o fluxo de petróleo russo para a Índia, seguido da exportação de combustíveis indianos à Europa, mina o propósito das restrições financeiras impostas a Moscou. Ele sustenta que as compras indianas cresceram “dez vezes ou mais” desde a invasão em larga escala da Ucrânia, ajudando a sustentar o esforço de guerra russo.
Honcharenko apoiou a pressão do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump sobre Nova Délhi. Em outubro, Trump disse que Modi lhe garantiu que a Índia “não compraria petróleo da Rússia”, informação não confirmada por autoridades indianas. Analistas ouvidos pela Reuters observam que, se a Índia recuar, o petróleo russo pode migrar para canais de negociação mais opacos.
Imagem: Efrat Lachter FOXBusiness via foxbusiness.com
Apesar de evitarem empresas russas sob sanção, como Rosneft e Lukoil, refinarias indianas demonstram interesse renovado em fornecedores não sancionados, aproveitando os descontos ampliados. A Europa continua grande compradora de diesel indiano; especialistas afirmam que essa demanda despencaria caso o petróleo de origem russa fosse totalmente barrado.
Aleksashenko considera a dependência europeia estrutural. “Se a Europa não quiser produtos feitos com petróleo russo, teria de fechar refinarias na Turquia e na Índia; caso contrário, ficaria sem derivados, e a economia colapsaria”, argumentou.
As negociações de um eventual acordo de paz com mediação dos Estados Unidos e parceiros europeus incluem debate sobre alívio de sanções. Honcharenko reconhece que certa flexibilização pode fazer parte de um pacto, mas manifesta oposição: “Como ucraniano, prefiro sanções mais duras e por mais tempo”.
Aleksashenko concluiu que a dependência mundial não se limita ao petróleo, mas também a níquel, paládio, fertilizantes e outras commodities russas, o que complica qualquer esforço de bloqueio econômico total.