Bruxelas – A União Europeia se comprometeu a adquirir US$ 750 bilhões em gás natural, petróleo e tecnologia nuclear dos Estados Unidos ao longo de três anos para fechar um acordo comercial com o presidente Donald Trump. Especialistas, porém, afirmam que o objetivo é difícil de alcançar.
Segundo autoridades europeias, o plano exigiria desembolsos anuais de cerca de US$ 250 bilhões. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, explicou que a estimativa considerou a substituição dos combustíveis fósseis russos restantes por gás natural liquefeito (GNL) “mais barato e melhor” proveniente de fornecedores norte-americanos.
No ano passado, a UE importou menos de US$ 80 bilhões em energia dos EUA, enquanto as exportações totais de energia norte-americanas somaram pouco mais de US$ 330 bilhões em 2024. “O valor não faz sentido; é inalcançável porque a demanda europeia não pode crescer tanto e os exportadores dos EUA tampouco podem fornecer esse montante”, afirmou Davide Oneglia, economista da TS Lombard.
Analistas ressaltam que o acerto firmado em Turnberry, na Escócia, tem caráter político e não é juridicamente vinculante. Até agora, Bruxelas não detalhou como as empresas seriam induzidas a comprar mais petróleo e gás dos EUA nem de que forma investimentos europeus no setor energético americano seriam contabilizados.
Uma parte da meta poderia vir de acordos envolvendo pequenos reatores modulares (SMRs). Contudo, esses equipamentos não devem estar prontos para operação comercial antes de 2030, o que contrasta com a intenção europeia de fortalecer sua própria indústria nuclear. Mesmo assim, o comissário de Comércio, Maros Sefcovic, declarou que “os números são alcançáveis” e citou um “renascimento nuclear” no continente.
Desde a invasão russa à Ucrânia, a Europa aumentou as compras de petróleo dos EUA, chegando a importar mais de 2 milhões de barris por dia em determinados períodos. No primeiro semestre de 2025, o volume médio ficou em 1,53 milhão de barris diários, equivalente a US$ 19 bilhões — cerca de 14% do consumo total de petróleo da UE.
Para a estrategista Florence Schmit, do Rabobank, o acordo não mudará o equilíbrio global “a menos que o governo dos EUA venda o GNL por conta própria ou que a UE pague preços superiores aos oferecidos por compradores asiáticos”. Ela avalia que qualquer aumento de fluxo dificilmente acontecerá antes do fim do mandato de Trump.
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Projeções internas mostram queda na demanda europeia por gás à medida que a transição verde avança. Ainda assim, os EUA, maior produtor mundial de GNL, planejam uma nova onda de oferta que dependerá de contratos de longo prazo para obter financiamento. “O que interessa à Casa Branca são novos acordos com compradores europeus para viabilizar projetos em desenvolvimento”, disse Han Wei, da BloombergNEF.
A UE criou uma plataforma conjunta de compras para reunir demanda e facilitar negociações, mas a adesão tem sido baixa. “É difícil enxergar isso como vitória europeia; cada Estado decidirá por conta própria se segue Trump ou não”, avaliou o consultor Jean-Christian Heintz, da Wideangle LNG.
O comissário de Energia, Dan Jorgensen, afirmou que o bloco está disposto a colaborar com Washington e fornecedores para atender às regras europeias sobre emissões de metano, ajustes que, segundo ele, seriam “principalmente técnicos”. A meta de neutralidade climática até 2050 prevê investimentos de € 241 bilhões (US$ 280 bilhões) em energia nuclear, incluindo os SMRs citados no acordo.
Com informações de Folha de S.Paulo