A aprovação, na última quinta-feira (data não especificada), da fusão de US$ 8 bilhões entre a Paramount Global e a produtora Skydance Media provocou apreensão dentro da redação da CBS News, braço jornalístico da Paramount. Profissionais ouvidos sob condição de anonimato afirmam que o novo controle prevê a criação de um ombudsman — apelidado internamente de “hall monitor” — e o fim das iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI).
De acordo com um desses funcionários, “quando o presente de boas-vindas do novo dono é um fiscal de corredor, isso não sinaliza muita confiança na redação”.
Documentação enviada à Comissão Federal de Comunicações (FCC) pelos novos controladores confirma que o ombudsman terá autonomia para apurar queixas internas e externas sobre o conteúdo jornalístico, reportando-se diretamente ao futuro presidente do conglomerado, David Ellison, CEO da Skydance.
No mesmo ofício, a conselheira jurídica da Skydance, Stephanie Kyoko McKinnon, informou ao presidente da FCC, Brendan Carr, que todas as políticas de DEI antes vigentes na Paramount serão encerradas. Recrutamento, promoções e remunerações deixarão de adotar metas baseadas em raça ou gênero, priorizando “mérito” e um “amplo leque de talentos”, segundo o texto.
Em fevereiro, a própria Paramount comunicara a retirada de objetivos de DEI de seus planos de contratação e dos pacotes de bônus de executivos, decisão recebida com protestos de parte da equipe. A carta da Skydance agora formaliza a mudança.
Outro integrante da CBS News avalia que o impacto do novo ombudsman dependerá de quem ocupará o posto e da extensão real de seu poder editorial.
A CBS apoiou metas de inclusão nos últimos anos. Em 2018, o apresentador Stephen Colbert disse ao The New York Times que só aceitava textos de mulheres para aumentar a presença feminina na equipe de roteiristas do “The Late Show”. O programa será encerrado em maio de 2026.
Imagem: David Spector via foxbusiness.com
Após a morte de George Floyd, em 2020, a emissora determinou que metade dos participantes de seus realities fosse formada por pessoas negras, indígenas ou de outras etnias. Também estabeleceu que 40% dos roteiristas de atrações de horário nobre em 2021-2022 pertencessem a esses grupos. Um programa de mentoria criado na mesma época escolheu sete roteiristas entre mil candidatos, nenhum deles homem branco, segundo a então vice-presidente de Diversidade e Inclusão da ViacomCBS, Tiffany Smith-Anoai.
A CBS News tem sido alvo recorrente de críticas de viés liberal e anti-Trump. No debate vice-presidencial de 2024, a moderadora Margaret Brennan cortou o microfone do vice-presidente J.D. Vance durante discussão sobre imigração. Já em 2020, a âncora do “60 Minutes” Lesley Stahl contestou referências de Donald Trump ao laptop de Hunter Biden; o canal reconheceu a autenticidade do material apenas em 2022.
Trump processou posteriormente a Paramount, alegando que a edição de uma entrevista de 2024 com a vice-presidente Kamala Harris suprimiu resposta confusa sobre a guerra em Gaza. O litígio foi encerrado neste mês por US$ 16 milhões.
A CBS não respondeu aos pedidos de comentário sobre as mudanças após a fusão.
Com informações de Fox Business