Dois membros do Conselho do Federal Reserve contrariaram a maioria do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) nesta semana e defenderam um corte de 0,25 ponto percentual nos juros básicos dos Estados Unidos. Foi a primeira vez em mais de três décadas que dois governadores registraram voto dissidente na mesma reunião sobre política monetária — situação não vista desde 1993.
Na quarta-feira (30), o FOMC decidiu, por 9 votos a 2, manter a taxa dos fed funds no intervalo de 4,25% a 4,50%. A governadora Michelle Bowman e o governador Christopher Waller votaram pela redução do custo do dinheiro e, na sexta-feira (1º), divulgaram notas explicando os motivos.
Bowman afirmou que a inflação, excluídos os efeitos temporários das tarifas comerciais, “aproximou-se consideravelmente” da meta de 2% do Fed, enquanto o mercado de trabalho “permanece próximo do pleno emprego”. Para ela, sinais de crescimento econômico mais fraco e de menor dinamismo na contratação justificariam iniciar um movimento “gradual” em direção a uma postura neutra de política monetária, evitando danos maiores ao emprego.
A governadora acrescentou que está “ainda mais confiante” de que as tarifas não representarão um choque inflacionário persistente, razão pela qual considera necessário priorizar os riscos para o mercado de trabalho.
Waller sustentou que os bancos centrais devem “olhar através” dos efeitos pontuais das tarifas, pois estes elevam os preços apenas de forma temporária. Citou o Produto Interno Bruto (PIB) real de 1,2% no primeiro semestre de 2025 como sinal de que a taxa de juros deveria estar mais próxima do nível neutro — estimado em 3%. A diferença em relação ao patamar atual exigiria cortes de 1,25 a 1,50 ponto percentual, argumentou.
Ele também destacou que, considerando revisões esperadas nos dados, o crescimento dos postos de trabalho no setor privado está perto de estagnar, aumentando os riscos de deterioração no mercado de trabalho. Waller disse respeitar a decisão majoritária de “esperar para ver”, mas avaliou que essa postura é “excessivamente cautelosa” e pode deixar a política monetária “atrasada em relação à curva”.
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Em entrevista após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu os votos dissidentes e afirmou que diferentes opiniões fortalecem o debate interno. Segundo ele, os aumentos de preços provocados por tarifas podem ser pontuais, mas também há chance de gerarem pressões inflacionárias adicionais.
No dia seguinte à decisão, o Departamento de Comércio informou que o índice de gastos com consumo (PCE) — métrica preferida do Fed — subiu de 2,3% para 2,6% em junho, afastando-se da meta oficial. Já o relatório de emprego divulgado na sexta-feira mostrou criação de 74 mil vagas em julho, abaixo da projeção de 110 mil, além de revisões negativas de 258 mil postos para maio e junho.
A combinação de inflação em alta, divergências dentro do próprio Fed sobre o impacto das tarifas e sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho deve adicionar complexidade às próximas decisões de política monetária do banco central norte-americano.
Com informações de Fox Business