O Brasil seria a nação em desenvolvimento mais prejudicada por um colapso total da Organização Mundial do Comércio (OMC), segundo levantamento da consultoria Oxford Economics encomendado pela Câmara de Comércio Internacional (ICC). O relatório, elaborado antes da recente escalada tarifária promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, simulou cenários de comércio global sem a atuação do órgão multilateral.
Entre dez economias avaliadas — Brasil, Guatemala, Egito, Vietnã, Indonésia, Camarões, Turquia, África do Sul, China e Índia —, o estudo concluiu que o Brasil sofreria a maior retração nas exportações de bens não energéticos, com queda estimada em 45% no longo prazo. A projeção decorre principalmente da forte concentração da pauta exportadora em commodities agrícolas, que respondem por 49% das vendas externas brasileiras fora do setor de petróleo.
Soja, carne bovina e açúcar, principais itens do agronegócio brasileiro, já enfrentam barreiras tarifárias e sanitárias em vários mercados. Sem a proteção das regras multilaterais da OMC, esses produtos poderiam estar sujeitos a tarifas mais altas ou a exigências fitossanitárias adicionais, dificultando seu acesso a destinos estratégicos.
No conjunto dos países analisados, a ausência da OMC levaria a uma redução média de 33% no comércio de bens. Nas economias de menor renda, a retração poderia chegar a 43%. O Produto Interno Bruto de longo prazo cairia entre 3% e 6%, reflexo não apenas do enfraquecimento do fluxo comercial, mas também de uma diminuição equivalente no investimento estrangeiro direto.
O documento ressalta que o Brasil possui integração limitada às cadeias globais de valor e depende das normas multilaterais para competir, sobretudo no setor agrícola. Em disputas diretas entre países — cenário que vem ganhando força com as medidas unilaterais dos Estados Unidos — a posição brasileira ficaria mais frágil.
Na semana passada, durante reunião na sede da OMC, o embaixador Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, classificou como “ataque sem precedentes” as sobretaxas impostas por Washington. Ele afirmou que tarifas estão sendo utilizadas para interferir em questões internas de outras nações, aludindo à vinculação feita por Trump entre a cobrança de 50% sobre produtos brasileiros e a situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Imagem: redir.folha.com.br
Desde 2019, o Órgão de Apelação da OMC permanece inoperante, porque os Estados Unidos bloqueiam a nomeação de novos juízes. Para contornar o impasse, União Europeia, China, Brasil e mais de 50 países criaram um mecanismo provisório de arbitragem, iniciativa da qual os EUA optaram por não participar.
A Câmara de Comércio Internacional, que encomendou o estudo, é uma entidade global fundada em 1919, em Paris, e representa empresas junto a governos e organismos multilaterais.
Com informações de Folha de S.Paulo