As tarifas comerciais implementadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump já adicionaram uma nova e robusta fonte de recursos ao orçamento federal, fator que pode dificultar a reversão dessas barreiras, segundo economistas e analistas.
De acordo com dados do Departamento do Tesouro, taxas alfandegárias somadas a alguns impostos especiais renderam US$ 152 bilhões até julho do atual ano fiscal, praticamente o dobro dos US$ 78 bilhões arrecadados em igual período do exercício anterior. A maior parte das tarifas mais recentes entrou em vigor na quinta-feira, 7.
Trump tem usado os números para defender sua política comercial, afirmando que a receita ajudará a compensar os cortes de impostos aprovados no Congresso no mês passado, estimados em US$ 3,4 trilhões ao longo de dez anos. “A boa notícia é que as tarifas estão trazendo bilhões de dólares para os EUA!”, escreveu o ex-presidente nas redes sociais após a divulgação de um relatório de emprego mais fraco.
Se mantidas, as tarifas podem gerar mais de US$ 2 trilhões em receita adicional na próxima década, estimam analistas. O economista João Gomes, da Wharton School, avalia que a nova fonte de dinheiro tende a ser “viciante”. “É muito difícil abrir mão de receita quando dívida e déficit são o que são”, afirmou.
Historicamente, Trump elogia o modelo fiscal do fim do século XIX, quando o governo norte-americano se financiava basicamente por tarifas e não cobrava imposto de renda. Embora a tributação sobre salários e rendimentos continue dominante, a combinação dos novos impostos de importação com os recentes cortes fiscais desloca parte da carga tributária para o consumo de bens.
Economistas destacam que a mudança é regressiva: famílias de menor renda, que comprometem parcela maior do orçamento com itens básicos, sentirão mais o aumento de preços provocado pelas tarifas, enquanto contribuintes de renda mais alta se beneficiam dos cortes no imposto de renda.
Empresas já anunciaram repasses de custos aos consumidores, e analistas preveem impacto negativo sobre o desempenho da economia, o que pode reduzir a arrecadação tradicional de imposto de renda.
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Ernie Tedeschi, diretor do Yale Budget Lab e ex-assessor da administração Biden, observa que retirar as tarifas exigiria compensar a perda de receita com novos impostos, decisão que dependeria do Congresso. “O Legislativo pode não querer enfrentar um voto politicamente arriscado quando nem precisou votar para adotar as tarifas”, disse.
Em meio ao debate, já surgem propostas para destinar os recursos. Trump cogitou enviar cheques de reembolso aos americanos, enquanto o senador republicano Josh Hawley apresentou projeto que prevê o pagamento de US$ 600 a parte da população. Democratas, caso retomem o poder, também podem aproveitar a arrecadação para financiar programas sociais, apontou o estrategista Tyson Brody.
Com receitas crescentes e pressões políticas, especialistas consideram que as tarifas de importação criadas pelo governo Trump tendem a permanecer como componente relevante do orçamento federal nos próximos anos.
Com informações de Folha de S.Paulo