O avanço rápido da inteligência artificial (IA) nos Estados Unidos tem provocado uma fuga de capital de empresas que analistas consideram expostas à nova tecnologia. Desde meados de maio, uma cesta de 26 companhias apontadas pelo Bank of America como mais suscetíveis à disrupção da IA perdeu, em média, 22 pontos percentuais em relação ao S&P 500, após ter caminhado em linha com o índice desde o lançamento do ChatGPT, no fim de 2022.
A retração ocorre no momento em que a Nvidia se torna a empresa de maior valor de mercado do planeta, avaliada em quase US$ 4,5 trilhões, e quando startups como OpenAI e Anthropic levantam dezenas de bilhões de dólares. O cenário reforça a percepção de que a IA pode transformar setores inteiros, repetindo o efeito da internet no passado.
Entre as companhias mais penalizadas neste ano estão:
“A disrupção é real”, afirmou Daniel Newman, presidente-executivo do Futurum Group. “O que pensávamos que levaria cinco anos pode acontecer em dois. Negócios intensivos em mão de obra estão particularmente expostos.”
A tensão ficou evidente na semana passada, quando a Gartner cortou sua projeção de receita anual e viu suas ações despencarem 30% em cinco dias, registrando a pior semana da história da companhia. Embora a empresa tenha atribuído o resultado a cortes de gastos do governo dos EUA e a tarifas, analistas citaram a IA como principal ameaça, avaliando que ferramentas baseadas na tecnologia podem oferecer pesquisa e análise por preços menores.
O Morgan Stanley avaliou que o episódio “adiciona combustível à tese de disrupção da IA”, enquanto a Baird declarou estar “mais preocupada com o impacto” da tecnologia sobre a Gartner.
O setor de agências de publicidade sente pressão semelhante. A Omnicom Group recuou 15% em 2025, e a concorrente WPP cedeu mais de 50%, em meio a relatos de que a Meta pretende automatizar totalmente a criação de anúncios por meio de IA. Na avaliação do analista Michael Nathanson, da MoffettNathanson, “o modelo tradicional de agência já enfrentava forte pressão antes mesmo de a IA generativa ganhar escala”.
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A Alphabet, dona do Google, aparece simultaneamente como uma das companhias mais bem posicionadas em IA e como integrante da cesta de risco do Bank of America, reflexo da preocupação de que a empresa atue na defensiva para proteger sua fatia no mercado de busca.
Alguns negócios apontados como potenciais prejudicados vêm surpreendendo. A Duolingo, dona do aplicativo de ensino de idiomas, dobrou de valor em 12 meses após elevar projeções de vendas, movimento que a empresa atribui, em parte, ao uso de IA em seus serviços. Ainda assim, analistas alertam que versões mais avançadas da tecnologia podem ameaçar o modelo no futuro.
Enquanto muitos papéis sofrem, gigantes da tecnologia ampliam investimentos. Microsoft, Meta, Alphabet e Amazon devem desembolsar, juntas, cerca de US$ 350 bilhões em despesas de capital nos atuais exercícios fiscais, um salto próximo de 50% na comparação anual, segundo estimativas da Bloomberg. Grande parte dos recursos financia infraestrutura voltada à IA, beneficiando empresas como a Nvidia, líder no fornecimento de chips para esse mercado.
Para Adam Sarhan, presidente-executivo da 50 Park Investments, “qualquer companhia que cobre por uma tarefa que a IA faça mais rápido e barato corre o risco de ser eliminada”. Phil Fersht, da HFS Research, resume o clima entre investidores: “Wall Street está claramente apreensiva; este será um mercado duro e implacável”.
Históricos de inovações que extinguem modelos de negócio — do telégrafo ao surgimento da Netflix — reforçam a cautela de quem busca identificar quais empresas podem se tornar as próximas vítimas da inteligência artificial.