Em cinco anos, cenário global de criptoativos vira disputa geopolítica e força revisão de políticas

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Desde a última classificação global de políticas cripto, divulgada há cinco anos, o mercado de ativos digitais deixou a periferia financeira para ocupar o centro do tabuleiro político internacional. Nesse período, os Estados Unidos passaram de regulador restritivo a protagonista de uma agenda pró-cripto, enquanto outros países apertaram ou afrouxaram regras conforme seus próprios interesses econômicos e estratégicos.

EUA trocam repressão por abertura

Por décadas, Washington utilizou normas rigorosas — como a Regra de Viagem do Grupo de Ação Financeira (GAFI) — para exigir identificação de usuários e proteger a hegemonia do dólar. A postura mudou quando a adoção doméstica cresceu e as stablecoins lastreadas na moeda norte-americana reforçaram a primazia do dólar.

No primeiro semestre de 2024, o Congresso aprovou legislação bipartidária sobre stablecoins, e um presidente eleito em campanha pró-cripto assumiu a Casa Branca. O novo chefe do Executivo lançou seu próprio “memecoin” e anunciou plano de emitir um utility token para a rede social que pretende criar.

A guinada ganhou força após decisão da juíza Neomi Rao, em agosto de 2023, que classificou como “arbitrária e caprichosa” a negativa da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) ao ETF de Bitcoin da Grayscale. O veredicto abriu caminho para a aprovação, em janeiro de 2024, dos primeiros ETFs spot de Bitcoin — incluindo um administrado pela BlackRock — e impulsionou a criptomoeda além do recorde de 2021.

Risco de retrocesso interno

Embora 21% dos norte-americanos possuam criptoativos, a polarização política acende o alerta para eventuais mudanças bruscas. Parlamentares críticos, como a senadora Elizabeth Warren, já associam doações internacionais, stablecoins e figuras do setor a supostas irregularidades. Caso esse grupo volte ao poder, o setor teme alta de impostos e novas investidas regulatórias.

Cenário otimista projeta Bitcoin em patamar milionário

Outra hipótese, vista como “bullish” extremo, considera que políticas de baixo imposto e expansão de dívida — potencialmente elevando o endividamento dos EUA de US$ 33 trilhões para mais de US$ 50 trilhões — poderiam levar o país a formar reservas em Bitcoin. Propostas ventiladas incluem contas de investimento de US$ 1.000 para recém-nascidos do período presidencial e uso de ativos públicos avaliados em US$ 100 trilhões como garantia soberana. Nesse contexto, um “corrido” global para ativos digitais colocaria Bitcoin em faixas de preço multimilionárias.

Atualmente, o governo norte-americano detém cerca de 215 mil BTC (aproximadamente 1% da oferta total), enquanto a China possui em torno de 200 mil BTC, configurando uma possível “corrida armamentista” de reservas.

Insiders mantêm pressão regulatória

Na Europa e no Leste Asiático, nações classificadas como “insiders” reforçaram controles inspirados em antigas diretrizes dos EUA. O Reino Unido planeja multas de 300 libras por usuário que descumprir o novo padrão de reporte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A União Europeia aprovou o Markets in Crypto-Assets (MiCA), impondo requisitos rígidos a corretoras. Japão e Coreia do Sul apertaram fiscalização; em Seul, parlamentares propõem capital mínimo de US$ 360 mil para emissores de stablecoin, medida contestada pelo banco central.

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Imagem: Trader Iniciante 2 (16)

Outsiders buscam alternativas ao dólar

China, Rússia e demais integrantes do grupo BRICS intensificaram o debate sobre desdolarização, mas enfrentam limitações técnicas e políticas. Pequim baniu atividades cripto e impulsionou o yuan digital, que já soma quase 7 trilhões de yuans em transações e 180 milhões de usuários, mas ainda sem força para rivalizar com o dólar. Moscou, após proibir pagamentos em cripto, legalizou a mineração e autorizou o uso de ativos digitais para comércio exterior, ajudando mineradores a faturar bilhões em 2024.

Índia adotou tributação elevada para conter impacto sobre a rupia, mas liberou operações; em março de 2025, a Coinbase recebeu licença no país. Brasil regulou o mercado em 2022 e avalia reservar até US$ 18,5 bilhões em Bitcoin. África do Sul licenciou exchanges e expandiu o projeto de moeda digital do banco central. No Vietnã, cripto foi legalizado em junho de 2025.

Experimentadores se dividem entre conformidade e inovação

Jurisdicões que antes ofereciam abrigo regulatório — Singapura, Suíça, Malta e Estônia — endureceram regras. Singapura viu a posse de cripto cair de 40% para 29% após a Lei de Serviços e Mercados Financeiros exigir licenciamento rigoroso. A Suíça aderiu ao CARF da OCDE, prometendo trocar dados de usuários com 74 países até 2027. Malta enfrenta maior escrutínio da União Europeia, e a Estônia reduziu de 1.200 para pouco mais de 100 o número de empresas licenciadas depois de escândalo de lavagem de dinheiro.

Soberanos inovadores apostam alto

Novo grupo de “soberanos inovadores” desponta liderado por El Salvador. Desde 2021, o país centro-americano tornou o Bitcoin moeda de curso legal, acumulou mais de 6.000 BTC, utiliza energia geotérmica de vulcões para mineração e, no início de 2025, concedeu licença à Tether para construir um ecossistema financeiro completo baseado em ativos digitais.

No Himalaia, Butão acumulou cerca de US$ 1,5 bilhão em Bitcoin. O Paquistão anunciou reserva soberana no mês passado. A Argentina recebeu US$ 91 bilhões em fluxos de cripto em 2023 — recorde na América Latina — impulsionada por stablecoins; o governo de Javier Milei discute permitir Bitcoin ao lado do dólar para estabilizar a economia.

Com políticas divergentes e interesses nacionais em jogo, o rumo dos criptoativos continuará sujeito a avanços tecnológicos, escolhas regulatórias e disputas de poder entre grandes blocos econômicos.

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