Zurique, — A recente aprovação da Guiding and Establishing National Innovation for US Stablecoins Act (GENIUS Act) tende a mudar o foco do mercado de stablecoins dos modelos baseados em rendimento para casos de uso voltados a pagamentos, afirmou Fabian Dori, diretor-de-investimentos do banco digital suíço Sygnum.
Dori explicou que a emenda mais recente da lei cria uma distinção clara entre stablecoins que pagam juros e aquelas destinadas exclusivamente a transferências. Segundo ele, essa diferenciação aproxima o arcabouço regulatório dos Estados Unidos do regime europeu MiCA, abrindo caminho para um consenso internacional.
Para o executivo, a maior contribuição da GENIUS Act é oferecer segurança jurídica a emissores e empresas, estimulando a criação de aplicações “matadoras” e de novos serviços de pagamento. “A clareza regulatória dá às organizações confiança para inovar”, disse.
Grandes companhias já se movem nesse sentido. Mastercard e PayPal trabalham em soluções compatíveis com a lei, enquanto Amazon e Walmart estudam o uso de stablecoins em folha de pagamento e liquidações internacionais.
Dori ressaltou que investidores em busca de retorno devem preferir fundos de mercado monetário tokenizados, que mantêm valor estável, liquidez diária e hoje oferecem rendimento anual de 45% em títulos do Tesouro dos EUA, sem confundir investimento com utilidade.
Com as stablecoins remuneradas restritas, a expectativa é que os emissores priorizem vantagens como liquidação instantânea, baixo custo e programabilidade, integrando-as a sistemas de pagamento e negociação, comentou Dori.
Jason Lau, diretor de inovação da exchange OKX, concorda: “Utilidade supera rendimento agora”. Ele acredita que a eficiência em pagamentos transfronteiriços e o interesse de empresas como PayPal e Stripe devem acelerar a adoção comercial.
Aishwary Gupta, chefe global de pagamentos da Polygon Labs, afirmou que a migração para a utilidade já ocorria antes da lei. Entre fevereiro e junho, o volume de micropagamentos em stablecoins na rede subiu 67%, chegando a US$ 110 milhões.
Imagem: cointelegraph.com
Gupta observou que a Polygon trabalha em infraestrutura para tarifas de centavos e capacidade de até 100 mil transações por segundo. A empresa negocia com uma operadora que possui 185 milhões de celulares na África para habilitar pagamentos B2B internacionais e diz ter “7 a 8 milhões de carteiras prontas para entrar em operação”. No mesmo período, transações de pequeno valor (US$ 100 a US$ 1.000) na rede saltaram 190%, para US$ 563 milhões.
Apesar do entusiasmo corporativo, Dori enfatizou que a aceitação do consumidor final determinará o ritmo da integração das stablecoins. “Não são as fintechs que movem o ponteiro, mas o usuário”, frisou.
Lau prevê ainda que protocolos DeFi serão grandes beneficiários da nova clareza legal, já que as stablecoins sustentam boa parte da atividade on-chain. Ele vê espaço para produtos com yield sintético e modelos de governança que ampliem a demanda por esses ativos.
A GENIUS Act foi aprovada este mês na Câmara dos Deputados dos EUA por mais de 300 votos, incluindo o apoio de 102 democratas, tornando-se o primeiro marco federal específico para stablecoins.
Com informações de Cointelegraph