Empresas que recebem por vendas parceladas podem transformar recebíveis futuros em capital imediato por meio dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Uma projeção da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) mostra que, ao antecipar R$ 1 milhão em títulos de crédito, o negócio pode atingir cerca de R$ 962 mil depois de 12 meses, desde que reinvista o valor obtido.
O FIDC reúne cotas adquiridas por investidores qualificados e direciona os recursos para a compra de direitos creditórios – duplicatas, cheques, aluguéis ou parcelas no cartão. Com isso, a empresa recebe o dinheiro à vista, enquanto o fundo passa a deter o fluxo de pagamentos originalmente previsto.
A análise foi conduzida pelo planejador financeiro CFP Harion Camargo:
Cenário 1 – antecipação integral
• Antecipação: R$ 1.000.000
• Deságio médio: 1,4% ao mês
• Valor líquido recebido: R$ 851.000
• Reinvestimento: 0,95% ao mês (100% do CDI líquido de IR) por 12 meses
• Montante final: aproximadamente R$ 962.000
Cenário 2 – recebimento no fluxo normal
• Aplicação mensal: R$ 83.333,33 (parcelas originais)
• Taxa: 0,95% ao mês pelo mesmo período
• Montante final: cerca de R$ 973.000
A diferença entre as duas estratégias é de cerca de R$ 11 mil após um ano. Segundo Camargo, ter o capital disponível imediatamente pode compensar o rendimento ligeiramente menor, pois permite negociar descontos com fornecedores, repor estoque em momento oportuno, quitar dívidas caras ou aproveitar oportunidades de expansão.
Imagem: infomoney.com.br
Para as companhias, o FIDC oferece liquidez rápida, ajuda a acelerar ciclos operacionais e reduz a dependência de empréstimos bancários – fator relevante principalmente em negócios de menor porte, que enfrentam mais barreiras para acessar crédito convencional.
Do lado dos cotistas, os fundos de recebíveis entregam retornos comparáveis a produtos tradicionais de renda fixa, com possibilidade de taxas superiores e eficiência tributária. Desde 2023, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) liberou o ingresso de investidores de varejo, surgiram veículos com tíquetes mais baixos, liquidez ajustada e maior transparência da carteira.
Mickael Paolucci, fundador do Grupo Multiplica, avalia que a educação financeira tende a ampliar o uso dos FIDCs. Ele destaca que a combinação de juros elevados – Selic a 15% ao ano – e maior seletividade bancária torna o produto uma alternativa relevante para manter o capital em circulação com equilíbrio entre risco e retorno.
Especialistas concluem que, adotado com planejamento, o FIDC permite ao empresário ganhar tempo, melhorar poder de barganha e mitigar riscos operacionais, enquanto o investidor acessa uma classe que une previsibilidade de renda fixa e potencial de ganhos acima da média.