San Francisco – Quatro executivos de Meta, OpenAI e Palantir vestiram uniforme de combate e juraram “apoiar e defender os Estados Unidos” durante cerimônia em junho, na Base Conjunta Myer-Henderson Hall, em Arlington (Virgínia). Eles foram nomeados tenentes-coronéis do recém-criado Destacamento 201, unidade que aconselhará o Exército sobre novas tecnologias para uso em futuras operações.
O secretário do Exército, Daniel Driscoll, afirmou que “desesperadamente” necessita da competência dos profissionais do Vale do Silício. Os quatro executivos — Andrew Bosworth (diretor de tecnologia da Meta), Shyam Sankar (chefe de tecnologia da Palantir), Kevin Weil (diretor de produto da OpenAI) e Bob McGrew (consultor do Thinking Machines Lab e ex-OpenAI) — já iniciaram treinamento básico e deverão cumprir períodos anuais de serviço na reserva.
Nos últimos dois anos, empresas que antes evitavam qualquer associação a armamentos mudaram suas políticas internas. Meta, Google e OpenAI removeram cláusulas que proibiam o uso de inteligência artificial em armas. A OpenAI desenvolve sistemas antidrone em parceria com a Anduril; a Meta fabrica óculos de realidade virtual para treinamento militar; e o Google, desde fevereiro, liberou oficialmente a aplicação de suas IAs em armamentos.
Simultaneamente, o capital de risco migrou para o setor. A Andreessen Horowitz destinou US$ 500 milhões em 2023 a projetos de defesa, enquanto a Y Combinator financiou sua primeira startup bélica em agosto de 2024. Segundo a McKinsey, investimentos de venture capital em empresas ligadas à defesa cresceram 33% no ano passado, somando US$ 31 bilhões.
A aproximação ocorre em meio à disputa tecnológica com a China e às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, onde drones e sistemas baseados em IA tornaram-se decisivos. Em abril, o então presidente Donald Trump assinou ordem executiva para modernizar o processo de aquisição de tecnologia do Pentágono e incluiu, em seu projeto de política doméstica, US$ 1 trilhão para defesa em 2026, com foco em drones autônomos.
Para Raj Shah, sócio-gerente da Shield Capital, “proteger democracias é importante” diante de regimes autoritários. Contudo, engenheiros de Google e Meta relatam preocupação com o uso de armas autônomas, alertando para o risco de aumento de vítimas.
O movimento é também um retorno às origens. Na década de 1950, o Departamento de Defesa financiou empresas locais para enfrentar a União Soviética, e a DARPA ajudou a incubar tecnologias que originaram a internet. Nos anos 1990 e 2000, porém, as companhias voltaram-se a produtos de consumo e adotaram slogans pacifistas, o que levou, por exemplo, a 4 mil protestos internos no Google em 2018 contra o Projeto Maven, de análise de imagens de drones.
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Exceções existiam, como a Palantir, que processou o Exército em 2016 para obrigá-lo a considerar seu software — e venceu. Hoje, a empresa vale mais de US$ 375 bilhões, superando, somadas, tradicionais contratadas como Lockheed Martin, Northrop Grumman e General Dynamics.
Fundada em 2017 por Palmer Luckey, a Anduril assinou contrato de US$ 642 milhões com o Corpo de Fuzileiros Navais em março e outro de US$ 250 milhões, em outubro, para aprimorar defesa aérea. Em junho, anunciou captação de US$ 2,5 bilhões, elevando sua avaliação para US$ 30,5 bilhões.
A Regent, que desenvolve planadores marítimos elétricos, tornou-se exemplo da nova euforia. Após sentir resistência a tecnologias de defesa na Y Combinator em 2021, a empresa já levantou mais de US$ 100 milhões desde 2023, firmou contrato de US$ 15 milhões com os Fuzileiros Navais e ergue uma fábrica em Rhode Island.
Em março, centenas de investidores e empreendedores reuniram-se em Washington numa cúpula da Andreessen Horowitz dedicada ao programa “American Dynamism”. O vice-presidente JD Vance, ex-investidor da Anduril, discursou defendendo a “dominação” de novas tecnologias produtivas.
Para o diretor de tecnologia da Meta, Andrew Bosworth, a mudança é clara: “Há uma base patriótica muito maior no Vale do Silício do que se imagina”.