O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está nos Estados Unidos desde domingo (27), mas ainda não obteve sinal verde da administração Donald Trump para discutir o aumento de tarifas de importação de 10% para 50% contra produtos brasileiros previsto para entrar em vigor em 1º de agosto.
Membros do Itamaraty informaram ter avisado a Washington que Vieira poderia se deslocar à capital norte-americana caso houvesse interlocutor autorizado a tratar do tema. Até o momento, porém, não houve retorno positivo, e o chanceler mantém agenda apenas em Nova York, onde participa, até terça-feira (29), de conferência da ONU sobre a solução de dois Estados para o conflito Israel-Hamas.
O governo brasileiro indica que seguirá insistindo em contatos ao longo da semana, mas descarta qualquer concessão em temas políticos levantados por Trump, como processos judiciais envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou decisões do Judiciário brasileiro.
Na sexta-feira (25), uma fonte da Casa Branca disse à Folha que os Estados Unidos não receberam “engajamento relevante ou propostas significativas” do Brasil. Integrantes do governo Lula (PT) enxergam na declaração uma tentativa de atribuir ao país a responsabilidade por eventual tarifaço, além de indicativo de que Washington quer incluir assuntos políticos na negociação.
Em carta enviada a Lula em 9 de julho, Trump justificou o aumento das tarifas, “em parte”, pela “caça às bruxas” que alega existir contra Bolsonaro e por supostas ordens judiciais que limitariam a liberdade de expressão no Brasil.
O presidente norte-americano reiterou no domingo (27) que não pretende postergar o prazo de 1º de agosto. A expectativa em Brasília é de que, nessa data, possa ser divulgado um cronograma de implementação, e não a aplicação imediata das sobretaxas.
Antes do anúncio das novas alíquotas, em maio, o governo brasileiro enviou carta com pedido de isenção para certos produtos e ofereceu concessões. Há duas semanas, Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) mandaram novo documento cobrando resposta.
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Paralelamente, oito senadores brasileiros liderados por Nelsinho Trad (PSD-MS) cumprem missão oficial em Washington até quarta-feira (30). Embora busquem sensibilizar autoridades norte-americanas e o setor privado, a agenda não inclui reuniões com membros do Executivo dos EUA.
Nesta segunda (28), o grupo se reúne na Embaixada do Brasil e, à tarde, participa de encontro na Câmara de Comércio dos EUA. Na terça (29), estão previstos compromissos com senadores republicanos e democratas; na quarta, reuniões com executivos no Council of the Americas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou diálogo com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, mas foi informado de que o assunto está sob análise exclusiva da Casa Branca. Já Alckmin conversou, no sábado (19), com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, por cerca de 50 minutos, reafirmando disposição para negociar.
A Casa Branca prepara um decreto amparado por declaração de emergência econômica para justificar as tarifas. Trump alega déficit comercial com o Brasil, apesar de os EUA registrarem superávit nas trocas bilaterais. Detalhes do texto ainda não foram divulgados.
Com informações de Folha de S.Paulo