São Paulo – O sucesso do doce chamado “morango do amor”, recheado com brigadeiro branco e coberto por calda de açúcar, provocou uma corrida pelo fruto em Atibaia e Jarinu (SP), principais polos paulistas da cultura. Produtores relatam aumento de 40% na procura em 2025 e preços até quatro vezes maiores em comparação com 2024.
A caixa de morangos selecionados, que custava cerca de R$ 20 no ano passado, passou a ser vendida entre R$ 70 e R$ 80. Agricultores atribuem a alta ao frio intenso, que provocou geadas, e ao crescimento da demanda impulsionada pelo novo doce.
O Brasil colhe 190 mil toneladas de morango por ano, segundo o IBGE. Em duas décadas, o volume aumentou 92%, enquanto a área plantada subiu 61%, de acordo com a Embrapa. Mesmo assim, a oferta não acompanha o consumo.
A família Maziero simboliza a história da fruta na região. O produtor Rafael Augusto Maziero herdou o cultivo do pai, Osvaldo, e do avô, Duílio, que trocaram a uva pelo morango após a influência de imigrantes japoneses. No auge, o clã chegou a 2,5 milhões de plantas; hoje mantém 55 mil pés.
Atibaia e Jarinu estimam colher 3 mil toneladas em 2025, provenientes de 3 milhões de mudas. Nas décadas de 1980 e 1990, a região abrigava entre 60 milhões e 80 milhões de plantas. A tradicional Festa das Flores e Morango de Atibaia segue programada para setembro.
Para recuperar a produção local, agricultores procuraram a Embrapa em 2018. Resultado: a variedade Fênix, lançada em 2023 após seis anos de pesquisa, é a primeira com genética totalmente brasileira. Resistência, doçura e adaptação ao clima são as principais características.
O chamado “modelo Atibaia” – viveiros montados no fim da safra, em setembro, para fornecer mudas entre março e abril – pretende reduzir a dependência de matrizes importadas do Chile, Argentina e Espanha.
Em Jarinu, Sebastião Silvério de Oliveira, 57 anos, cultiva 40 mil pés e mantém outros 120 mil em Atibaia. Ele calcula aumento de 40% na demanda e no preço pago pelo fruto. A vizinha Claudenice Maria da Silva, 55, que já teve 200 mil plantas e hoje cuida de 40 mil, vende caixas à beira da estrada por até R$ 60 e elogia a Fênix: “é mais doce e dura mais”.
Imagem: redir.folha.com.br
A confeiteira Suellen Tofanin, dona da Confeitaria Suellen Doces, em Jarinu, vende de 200 a 300 unidades diárias do “morango do amor” por R$ 18 (R$ 20 na versão pistache). Para garantir estoque, compra direto no produtor. O preço da caixa de morangos selecionados que pagava R$ 50 subiu para R$ 70 em uma semana.
Apesar da visibilidade paulista, o Sul de Minas Gerais responde por mais de 60% da produção nacional. São 3.722 hectares cultivados por mais de 11 mil agricultores familiares, com colheita superior a 100 mil toneladas, segundo a Emater-MG. Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, norte mineiro e Chapada Diamantina (BA) também se destacam.
Coordenador da Rede de Morangos do Brasil, Juliano Rezende desenvolve uma muda adaptada ao clima nordestino para ampliar a janela de produção e reduzir a exposição a fatores externos, como variações no preço de fertilizantes.
Além do plantio tradicional em solo, muitos produtores adotam sistemas suspensos, irrigação por gotejamento e cobertura plástica. Na família Maziero, a continuidade do negócio depende agora de Vítor, 20 anos, filho de Rafael e estudante de agronomia.
Mesmo diante das oscilações de mercado e do clima, agricultores da região dizem manter o otimismo. “O agricultor nunca perde a esperança”, resume Sebastião.
Com informações de Folha de S.Paulo