Berlim – Em uma área de 600 hectares na localidade dinamarquesa de Rodbyhavn, escavadeiras, guindastes e rebocadores trabalham 24 horas para erguer o Fehmarnbelt, túnel imerso de 18 quilômetros que, quando inaugurado em 2029, ligará a ilha de Lolland, na Dinamarca, à ilha alemã de Fehmarn. A estrutura será a mais longa já construída com essa técnica.
O projeto, iniciado em 2020, adota um sistema de montagem industrial: 89 gigantes de concreto, chamados de “elementos”, são produzidos em fábrica climatizada. Cada peça tem 217 m de comprimento, 42 m de largura, 15 m de altura e pesa 73 mil t. O interior abriga duas pistas duplas para veículos, duas vias férreas e um corredor de serviço. Dez desses elementos recebem um piso extra destinado a operações e manutenção.
Os blocos levam nove semanas para ficar prontos. Após a cura do concreto, as extremidades são seladas, garantindo flotabilidade. Rebocadores conduzem cada unidade até o trecho previamente dragado – 15 milhões de m³ de sedimentos foram removidos entre 2021 e 2024 – onde duas embarcações especiais controlam a descida. O encaixe precisa respeitar margem de erro máxima de 15 mm, avanço expressivo em relação ao túnel de Oresund, concluído em 2000, que tolerava 50 mm.
Depois de posicionados, os elementos são conectados por guias e presilhas metálicas. A água entre as junções é retirada, criando pressão negativa e selagem definitiva. Na sequência, começam a instalação de trilhos, pavimentação, iluminação, ventilação e sistemas de segurança. Em 2028, a última peça unirá as duas frentes de escavação; no ano seguinte, carros atravessarão o Báltico em dez minutos e trens em sete.
Orçado em € 7,4 bilhões (R$ 42,1 bi) em 2015, o empreendimento recebeu € 1,3 bilhão (R$ 5,9 bi) da União Europeia. O restante vem de empréstimos que serão pagos pelos usuários; a amortização, via pedágio, está prevista para 28 anos. A estatal dinamarquesa Sund & Baelt, responsável por outras ligações como a ponte-túnel Oresund (Copenhague–Malmo), administra a obra.
Atualmente, carros e trens dependem de balsa para percorrer os 18 km do estreito, travessia que leva 45 min, sem contar embarque e desembarque. Com o túnel, o trajeto Hamburgo–Copenhague cairá para 2h30, metade do tempo atual, fortalecendo o corredor transcontinental que vai da Finlândia a Malta.
Imagem: redir.folha.com.br
O método inspira o projeto do túnel de 870 m entre Santos e Guarujá, cujo leilão está marcado para 5 de setembro. Avaliado em R$ 6,84 bi pelos governos federal e paulista, o custo por quilômetro (R$ 7,8 bi) supera o do Fehmarnbelt (R$ 2,34 bi), embora as obras não sejam consideradas comparáveis pelos especialistas.
O canteiro virou atração turística: Legoland, em Billund, montou uma maquete do projeto com 800 mil peças, concluída em 4 mil horas.
Com vida útil estimada em 120 anos, o Fehmarnbelt deve desaparecer à vista após a cobertura com pedras e cascalho. As correntes do mar Báltico devolverão sedimentos ao leito, escondendo a “linha de montagem” que, peça por peça, constrói o maior túnel imerso do mundo.
Com informações de Folha de S.Paulo