Diplomatas brasileiros, associações empresariais e lobistas ouvidos nas últimas semanas avaliam que as recentes investidas econômicas do ex-presidente norte-americano Donald Trump contra o Brasil tendem a se intensificar caso a Justiça avance sobre o ex-mandatário Jair Bolsonaro e aliados.
Segundo esses interlocutores, o pacote de tarifas anunciado por Trump, que isentou setores ligados a lobbies bem posicionados em Washington, teria como principal objetivo demonstrar apoio ao grupo bolsonarista, frear discussões no Brasil sobre taxação e regulação de grandes plataformas digitais e sinalizar que a aproximação do país aos Brics pode ter custos elevados.
Na visão de fontes diplomáticas, o ataque verbal de Trump ao ministro Alexandre de Moraes e ao Supremo Tribunal Federal reforça o caráter político da ofensiva. A expectativa é de que outros ministros, juízes, procuradores e integrantes do governo Lula possam ser alvos de futuras sanções, inclusive por meio de restrições bancárias ou comerciais envolvendo instituições dos Estados Unidos.
Empresas afetadas pelas sobretaxas consideram, por ora, que a saída mais eficaz para mitigar perdas é se associar a companhias norte-americanas igualmente prejudicadas. Entretanto, não há clareza sobre quais setores podem ser atingidos na próxima rodada nem se prevalecerá a lógica política ou a pressão de lobbies empresariais nos EUA.
Assessores de Trump admitem internamente que ele pode voltar a alterar tarifas de importação caso não observe impacto significativo no saldo comercial ou na arrecadação de tributos. O ex-presidente já cogita empregar a mesma estratégia contra países que mantêm relações econômicas com a Rússia, a Índia e até o Canadá.
Cinco empresas e 12 estados administrados por governadores democratas contestaram judicialmente o tarifaço. Um tribunal federal de recursos pode decidir o caso em até três meses; a parte derrotada deve recorrer à Suprema Corte, estendendo a disputa por pelo menos um ano.
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Trump só corre risco de perder a maioria no Congresso nas eleições de 2026. Até lá, analistas políticos consideram imprevisível o efeito econômico imediato das medidas protecionistas e se eventuais danos influenciarão o eleitorado.
Para diplomatas brasileiros, o episódio marca o início de um período de hostilidade renovada entre Brasília e Washington, sem horizonte claro para negociação.
Com informações de Folha de S.Paulo