Uma sobremesa que mistura morango fresco, brigadeiro branco e calda de açúcar virou fenômeno nas redes sociais e multiplicou o caixa de pequenas confeitarias em todo o país. O chamado “morango do amor” tem garantido receitas que variam de R$ 20 mil a R$ 70 mil em apenas sete dias, patamar comparado por empreendedoras ao movimento típico da Páscoa.
Na zona oeste de São Paulo, Neliane Carvalho dos Santos Santiago, 34, passou a produzir o doce neste mês após perceber a alta procura na internet. A princípio saíam 20 unidades diárias; hoje, a família inteira trabalha para entregar entre 130 e 150 peças, vendidas a R$ 13 cada. O marido, José Iris Graciano Santiago, 42, largou o emprego de motorista particular no fim de junho para ajudar na Neli Doces, que funciona na cozinha da casa do casal, no bairro Rio Pequeno.
“Tínhamos dias com mais de 30 copos encalhados. Depois do morango do amor, aparecem clientes novos todos os dias”, relata Neliane.
Em São Bernardo do Campo (SP), Regiane Caruto, 45, nunca havia trabalhado com o produto. Em cinco dias, depois de iniciar a produção em 19 de julho, vendeu mais de mil unidades, hoje cotadas a até R$ 20, gerando faturamento de cerca de R$ 20 mil. Ela prepara versões como bombom de uva do amor e morango com brigadeiro preto.
Com 2,5 milhões de seguidores no TikTok, Taiana Santos, 26, de Cachoeirinha (RS), esgotou 500 unidades em 49 segundos quando abriu as vendas pelo site. Foram 96 pedidos que renderam R$ 8.450; cada doce sai a R$ 16,90.
Em Araucária (PR), Bruna Fernanda de Jesus Silva, 31, da Brigaderia Chic, afirma ter criado o morango do amor em 2019 e mantê-lo no cardápio desde 2020. Desde 19 de julho, o item rendeu R$ 70 mil. A produção passou de até 300 unidades por semana para 350 a 400 por dia, chegando a 870 em 24 de julho; preço entre R$ 18 e R$ 20.
A Sodiê Doces, com 400 lojas no Brasil e duas nos EUA, vendeu 8.000 unidades no dia de estreia da sobremesa. A empresa alerta para possível falta de morangos devido à sazonalidade da fruta. A tradicional Amor aos Pedaços também registra filas pelo produto.
Na Ceagesp, Letícia de Oliveira Rosa, 35, relata que a caixa com quatro bandejas de morango subiu de R$ 20 para R$ 50. Em junho, o IPCA apontou alta de 8,2% no preço da fruta; no acumulado de 2025, o avanço chega a 39,89%.
Imagem: redir.folha.com.br
Segundo Luiz Eduardo Antunes, pesquisador da Embrapa, o pico da safra ocorre entre agosto e setembro no Sudeste e entre outubro e novembro no Sul. Minas Gerais responde por metade da produção, seguida por Atibaia, Piedade e Jarinu (SP).
Não há consenso sobre o primeiro vídeo viral do doce; buscas no Google começaram a subir na última semana de junho e dispararam em meados de julho. A empresária Tânia Cristina Passos, 39, da Brigsmores Brigaderia (Santos, SP), virou referência depois de ter o nome citado por inteligência artificial como pioneira. Desde então, a demanda saiu de, no máximo, 50 unidades diárias para volumes que exigiram contratação de dois funcionários extras. Ela pediu demissão de um cargo em comércio exterior em 23 de julho para dedicar-se integralmente à confeitaria.
Diante do receio de que a moda seja passageira, como aponta Carlos Honorato, professor da FIA Business School, confeiteiras já testam variações: uva, limão, laranja ou maracujá “do amor”.
Dados do Sebrae mostram que, somente em 2024, foram abertos 40.268 pequenos negócios de panificação e confeitaria, alta de 17% frente a 2023, indicando um setor atento a tendências rápidas como a do morango caramelizado.
Com informações de Folha de S.Paulo