Brasília – A imposição de tarifa extra de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos colocou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, no centro das negociações com Washington. Setores empresariais confiam que a habilidade do vice pode ampliar a lista de quase 700 itens já excluídos do chamado “tarifaço”.
A sobretaxa foi confirmada na quarta-feira (30) por ordem executiva do presidente Donald Trump. Derivados de petróleo, itens da aviação civil e suco de laranja ficaram de fora da cobrança extra, enquanto carnes, café e pescado foram incluídos.
Designado interlocutor do governo logo após a posse de Trump, Alckmin mantém contato frequente com autoridades americanas. Em março, conversou por videoconferência com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com o representante comercial (USTR), Jamieson Greer. Antes, o tema havia sido tratado com o senador republicano Steve Daines.
As tratativas ganharam ritmo em julho, às vésperas da decisão de Trump. Nos dez dias anteriores ao anúncio, o vice falou duas vezes com Lutnick; em uma das reuniões, o secretário solicitou a presença do conselheiro William Kimmit em encontro do governo brasileiro com as big techs.
Paralelamente, Alckmin intensificou reuniões com representantes de indústria, agronegócio e tecnologia e passou a conceder entrevistas quase diárias. Em evento em Osasco (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descreveu o vice como “negociador calmo e experiente”.
Um dia após a publicação da ordem executiva, Alckmin afirmou no programa Mais Você que o diálogo “está apenas começando” e brincou: “Minha especialidade é anestesia”.
O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, considera que 45% das exportações brasileiras aos EUA já protegidas pelas exceções refletem o empenho do vice. Para Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, reuniões comandadas por Alckmin permitiram apresentar dados técnicos usados nas negociações.
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O CEO global da Taurus, Salesio Nuhs, ressalta a experiência de Alckmin como ex-governador paulista e elogia sua equipe técnica. Já o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, vê o vice como “solução” em meio ao clima de tensão entre Brasília e Washington. No varejo, Jorge Gonçalves Filho, do IDV, cita o “equilíbrio emocional” do ministro.
Membros da oposição também reconhecem a legitimidade do vice. Aliados do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), classificam a relação como republicana. Na semana passada, porém, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), cancelou uma reunião de governadores com Alckmin, alegando descrença em solução rápida para o impasse.
O episódio ampliou a visibilidade do vice e reforçou seu nome para repetir a chapa com Lula em 2026, embora aliados ressaltem que o cenário político ainda pode mudar.
Com informações de Folha de S.Paulo