Montadoras e fornecedores de componentes aceleram a adoção de inteligência artificial (IA) em caminhões comercializados no Brasil, recurso que promete reduzir acidentes, economizar combustível e antecipar manutenções. Especialistas, entretanto, alertam para a necessidade de políticas rígidas de proteção de dados coletados pelos veículos.
Segundo Marcelo Gallao, diretor de desenvolvimento de negócios da Scania, a montadora passou a usar IA em 2019 para converter informações de telemetria em relatórios que orientam o motorista. A empresa criou uma escala de notas de A a E para avaliar a condução; a diferença entre os extremos pode chegar a 15% no consumo de diesel, declara o executivo.
A Mercedes-Benz emprega duas plataformas nos caminhões da linha 2025. O Uptime usa algoritmos para indicar o momento ideal de revisão, enquanto o FleetBoard monitora em tempo real a atuação do motorista e o desempenho do veículo. “Com base na posição do pedal do acelerador e na frequência de acionamento dos freios, conseguimos sugerir uma condução mais defensiva”, afirma Jefferson Ferrarez, vice-presidente de vendas e marketing de caminhões da marca no Brasil.
Em parceria com a ZF, a Goodyear desenvolveu o Mobility Cloud, que cruza dados de sensores instalados nos pneus para informar pressão e temperatura. De acordo com Fernanda Baré, gerente sênior de serviços e soluções da companhia, testes realizados no país apontaram ganho médio de 13% na durabilidade dos pneus quando a tecnologia é utilizada de forma preventiva.
A coleta de rotas, tipos de carga, informações financeiras e hábitos de direção eleva o risco de exposição de dados estratégicos das transportadoras, apontam advogados e fornecedores de tecnologia.
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Para a advogada Karim Kramel, sócia da DDA, criptografia de ponta a ponta e políticas claras de governança são indispensáveis para evitar acesso não autorizado. Thelis Botelho, CEO da CarboFlix, acrescenta que as empresas precisam informar aos motoristas quais dados serão capturados, a finalidade e o prazo de armazenamento.
Moritz Neto, fundador da Unfair Advantage, lembra que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) oferece diretrizes básicas, mas o avanço da IA embarcada em veículos torna necessária uma regulamentação específica sobre responsabilidades em eventuais falhas ou uso indevido de informações.
Com a digitalização em alta, montadoras e gestores de frota buscam equilibrar os benefícios operacionais da inteligência artificial com a obrigação de resguardar sigilos comerciais e dados pessoais.