A dinamarquesa Novo Nordisk, pioneira nos tratamentos injetáveis para diabetes e obesidade, viu sua liderança nesse segmento encolher rapidamente diante do avanço da norte-americana Eli Lilly. Em 29 de julho, a divulgação de lucro abaixo do esperado fez o valor de mercado da companhia despencar mais de €60 bilhões (cerca de R$ 384 bilhões) e acelerou a troca no comando: o executivo sênior Maziar “Mike” Doustdar foi anunciado como novo CEO, substituindo Lars Fruergaard Jørgensen.
Dados da consultoria Iqvia indicam que o Mounjaro, da Lilly, já soma mais de 622 mil prescrições semanais nos Estados Unidos, superando as 607 mil do Ozempic, da Novo. O Zepbound, outro produto da concorrente, também ultrapassou o Wegovy em volume de receitas.
A superioridade dos resultados clínicos da Lilly contribuiu para a migração de médicos e pacientes. Estudos mostram que Mounjaro e Zepbound proporcionam maior perda de peso e, segundo relatos de profissionais de saúde, há menor ocorrência de efeitos colaterais em comparação com Ozempic e Wegovy.
As ações da Novo Nordisk acumulam queda de 60% em 12 meses, enquanto os papéis da Eli Lilly recuaram 6% no mesmo período. Analistas descrevem a trajetória da empresa dinamarquesa como um “acidente de carro em câmera lenta”.
A Novo foi a primeira a receber aprovação da FDA para essa nova classe de medicamentos — Ozempic (2017) para diabetes e Wegovy (2021) para obesidade. Entretanto, subestimou a demanda inicial e enfrentou escassez de produto. Na tentativa de recuperar o atraso, adquiriu fábricas da terceirizada Catalent para ampliar a produção.
Além do gargalo industrial, a companhia demorou a adotar iniciativas de vendas diretas. A Lilly lançou o serviço LillyDirect no início de 2024; a Novo só implantou o NovoCare em março deste ano. O grupo dinamarquês também fechou acordo exclusivo com a gestora de benefícios CVS Caremark, que passou a priorizar o Wegovy em seu portfólio de obesidade.
Em dezembro, o ensaio do novo injetável CagriSema registrou perda média de peso de 23%, abaixo da meta de 25% anunciada pela empresa. Para comparação, a média é de 16% com Wegovy e 21% com Mounjaro. Os dados decepcionantes intensificaram a pressão por novos avanços.
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A Novo enviou para avaliação regulatória uma versão oral de semaglutida, princípio ativo de Ozempic e Wegovy. O comprimido, porém, exige ingestão em jejum e sem outros medicamentos, condição que levanta dúvidas sobre a adesão dos pacientes.
Enquanto isso, a Lilly prepara para 2026 o lançamento da pílula orforglipron; se o perfil de segurança for favorável, analistas preveem que o produto poderá reduzir o espaço dos injetáveis e aumentar a pressão sobre a Novo Nordisk.
Ao assumir, Doustdar reconheceu o desafio: “Não gosto de ver o preço da ação cair — como funcionário, como CEO eleito e como acionista. Mas contratempos não definem empresas; nossa resposta, sim”.
Com informações de Folha de S.Paulo