Laboratórios, indústrias e autoridades brasileiras intensificam iniciativas para viabilizar o SAF (combustível sustentável de aviação) em larga escala, combustível capaz de reduzir em até 80% as emissões na comparação com o querosene tradicional.
No H2CA (Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados), vinculado ao Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis, diferentes rotas tecnológicas estão em avaliação. No ano passado, a equipe concluiu ensaios com glicerina utilizando o processo fischer-tropsch, previsto pela ANP para produção de SAF. A técnica converte hidrogênio e monóxido de carbono da matéria-prima em petróleo sintético, do qual se extrai o combustível de aviação.
Atualmente o laboratório também investiga a obtenção de SAF a partir de óleos vegetais, bio-óleo e dióxido de carbono capturado do ar combinado ao hidrogênio. Na rota com óleos vegetais, o volume diário chega a 15 litros de petróleo sintético, sendo que 50% a 60% desse total se transforma em SAF depois do refino.
De acordo com a pesquisadora Fabíola Correia, a fase de testes com óleos vegetais deve durar de dois a três anos e atende a demandas de empresas da aviação que preferem manter sigilo sobre a participação. As informações coletadas servirão de base para futuras plantas industriais.
A Geo Biogás & Carbon prepara a instalação de uma unidade para produzir SAF em Narandiba, interior de São Paulo, com início de operação previsto para 2026. O projeto recebeu apoio de € 1,5 milhão (R$ 9,7 milhões) da agência alemã GIZ.
A escolha do estado foi orientada por estudo elaborado pela Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo) e pela própria GIZ, que apontou vantagens como matriz elétrica renovável, abundância de biomassa, demanda aérea elevada e infraestrutura existente.
Neste mês, a Petrobras informou ter realizado testes de produção de SAF na Reduc, no Rio de Janeiro, e em outras refinarias. O Plano de Negócios 2025-2029 prevê erguer uma planta para fabricar HVO (diesel renovável) e SAF na RPBC, em Cubatão (SP), com capacidade de 15 mil barris diários. O investimento total em projetos de biorrefino até 2029 está estimado em US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões).
Imagem: redir.folha.com.br
A Anac divulgou que a Oaci (Organização de Aviação Civil Internacional) passou a reconhecer a sustentabilidade do etanol de milho como insumo para SAF. Segundo a agência, o aval reduz a pressão por conversão de terras e diminui riscos à segurança alimentar ao permitir múltiplas safras na mesma área.
Para Filipe Alvarez, gerente executivo de sustentabilidade da Azul, os principais entraves ao avanço do SAF no país são o preço – até quatro vezes superior ao querosene – e a necessidade de validação internacional das matérias-primas brasileiras. Ele aponta resistência de países europeus, principalmente em relação à cana-de-açúcar, e defende a exportação de parte relevante da futura produção nacional.
A Gol participa do fórum Conexão SAF, coordenado pela Anac, e reforça a importância de políticas públicas que garantam oferta em larga escala e preços acessíveis. Já o grupo Latam mantém a meta de neutralizar 50% das emissões nos voos domésticos até 2030 e zerar a pegada de carbono até 2050.
Com a combinação de pesquisas em laboratório, projetos industriais e articulação regulatória, o setor estima iniciar a oferta comercial de combustível sustentável de aviação no Brasil a partir de 2026, dando os primeiros passos para a descarbonização do transporte aéreo.
Com informações de Folha de S.Paulo