São Paulo – A taxa básica de juros em 15% e sinais de desaceleração da atividade levaram os principais bancos privados do país a reduzir a exposição a risco no segundo trimestre. Focando em linhas com garantia e em clientes de maior renda, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander mantiveram a inadimplência sob controle, enquanto o índice geral do sistema financeiro voltou aos níveis mais altos desde 2017.
Nos balanços divulgados nesta semana, os três bancos somaram R$ 21,23 bilhões em lucro líquido de abril a junho, com avanço anual também na rentabilidade. Analistas, porém, veem incertezas para o segundo semestre caso o crédito desacelere ainda mais.
Dados do Banco Central mostram que o percentual de operações em atraso superior a 90 dias subiu de 3,28% em março para 3,55% em junho, igualando o patamar de maio de 2023, o maior desde 2017. Bradesco, Itaú e Santander, porém, reduziram ou mantiveram estável esse indicador em relação ao início do ano.
Uma mudança contábil impacta as estatísticas. A Resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional, vigente desde janeiro, permite que créditos vencidos há mais de 12 meses permaneçam na carteira sem serem classificados como perda, o que pode inflar o dado agregado de inadimplência.
Entre os três, o Santander foi o mais cauteloso, encolhendo a oferta de crédito e vendo leve queda na inadimplência. A matriz espanhola reservou € 467 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) para eventuais deteriorações no Brasil. O presidente Mario Leão lembrou que empresas endividadas já se financiam a 20%–25% ao ano e disse que a instituição está “mais seletiva”, priorizando alta renda, mas sem deixar de atender a baixa renda considerada sustentável.
A Genial Investimentos avalia que essa estratégia deve postergar a volta do ROAE a 20% — hoje em 16,4% — meta agora adiada para 2027.
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O Bradesco concentra a expansão em operações respaldadas por garantias reais. Segundo o presidente Marcelo Noronha, o banco segue o plano de longo prazo “sem fazer nenhuma loucura” no crescimento da carteira, após o impacto negativo sofrido em 2023 com o aumento da inadimplência de baixa renda.
Com maior peso de clientes de alta renda, o Itaú Unibanco exibiu novamente o maior lucro, a menor inadimplência e a maior carteira de crédito entre os três. Para o BB Investimentos, o resultado de abril a junho é continuidade do bom momento, impulsionado por ganhos de eficiência e foco na qualidade da carteira, apesar do elevado investimento em tecnologia.
Itaú e Bradesco não sentiram a recente onda de recuperações judiciais no agronegócio, diferentemente de Santander e Banco do Brasil. Balancetes preliminares do BB apontaram resultado abaixo do esperado em abril e maio, derrubando as ações em quase 7%. O balanço completo do segundo trimestre será divulgado em 14 de agosto, com expectativa de desempenho mais fraco entre os grandes bancos.
Para analistas do BTG Pactual, a resiliência da economia será determinante para instituições que ainda buscam recuperação, caso de Santander e Bradesco.