Os Estados Unidos e a União Europeia fecharam no domingo (27) um acordo que estabelece tarifa de 15% sobre uma série de produtos europeus, medida que impacta principalmente os setores automotivo, vitivinícola e de bens de luxo. O anúncio foi feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A alíquota acertada é menor que os 30% inicialmente cogitados por Washington, mas deve encarecer as exportações europeias, já pressionadas pela valorização do euro em relação ao dólar desde o início do ano.
Alguns segmentos ficaram de fora da nova tarifa, entre eles a indústria aeronáutica, “determinados produtos químicos”, “determinados produtos agrícolas” e matérias-primas críticas.
Para os veículos produzidos na Europa, a taxação dos EUA, que havia saltado de 2,5% para 27,5% em abril, recua agora para 15%. Em 2024, fabricantes europeus venderam quase 750 mil carros ao mercado norte-americano, movimentando cerca de US$ 45 bilhões, segundo a Associação Europeia de Montadoras (ACEA). A maior parte dos modelos — de sedãs a SUVs de luxo — sai de fábricas alemãs de marcas como Audi, BMW, Mercedes e Porsche.
A relação comercial EUA-UE responde por 30% das trocas globais, totalizando aproximadamente US$ 2 trilhões em bens e serviços em 2024, conforme o Conselho Europeu. No ano passado, os norte-americanos registraram déficit de cerca de US$ 230 bilhões na balança de bens com o bloco, enquanto obtiveram superávit de US$ 174 bilhões em serviços.
Medicamentos lideram as exportações europeias para os EUA, somando US$ 140 bilhões em 2024 (22,5% do total), segundo a Eurostat. Isentos até agora, esses produtos não receberam tratamento especial no novo acordo, alertou Trump sem detalhar eventuais mudanças futuras.
O setor já enfrentava sobretaxa de 50% sobre alumínio e aço desde março, além de adicional de 10% sobre equipamentos — inclusive aeronaves — aplicado em abril. Von der Leyen informou que este último percentual será eliminado, aliviando parcialmente os custos para fabricantes europeus.
Artigos de luxo e beleza pagarão a tarifa de 15%. O grupo francês LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton e Dior, avaliou que o percentual pode ser compensado com reajustes de preço ou ajustes na produção. Os EUA respondem por 25% das vendas da empresa, que planeja abrir um quarto ateliê da Louis Vuitton no Texas. Já o grupo Kering, controlador de Gucci e Balenciaga, descarta produzir bolsas italianas em solo norte-americano.
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No segmento de cosméticos, marcas francesas e italianas também sentem o impacto. A L’Oréal obtém 38% de sua receita global nos EUA e estuda transferir parte da produção para outros países.
A presidente da Comissão Europeia garantiu isenções para “certos produtos agrícolas”, mas não especificou quais. Em 2024, o bloco vendeu aos EUA mais de €9 bilhões em bebidas alcoólicas, dos quais quase €6 bilhões em vinhos — metade de origem francesa. Itália, Suécia (vodca) e Irlanda (uísque) também têm participação significativa. Queijos e conservas estão entre outros itens com forte presença no mercado norte-americano.
As exportações europeias de equipamentos industriais somaram US$ 105 bilhões em 2024, enquanto produtos elétricos e eletrônicos alcançaram quase US$ 53 bilhões. O efeito das tarifas varia entre empresas: a francesa Legrand pretende repassar custos ou deslocar produção, enquanto a finlandesa Nokia, que realiza 30% das vendas nos EUA, revisou para baixo suas projeções para 2025.
O acordo entra em vigor imediatamente, mas ainda pode passar por ajustes técnicos nas próximas semanas.
Com informações de Folha de S.Paulo