O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou que na próxima semana entrarão em vigor tarifas de dois dígitos sobre produtos de quase 100 países, medida que rompe os compromissos assumidos por Washington desde o pós-Segunda Guerra Mundial na Organização Mundial do Comércio (OMC).
As cobranças, que variam de 10% a 41%, substituem os impostos de importação reduzidos acertados no âmbito da OMC e concretizam uma promessa de campanha de Trump: diminuir o fluxo de mercadorias estrangeiras e, segundo ele, favorecer indústrias e empregos norte-americanos.
Em 2 de abril, no que classificou como “Dia da Libertação”, o presidente anunciou uma taxa básica de 10% para quase todas as importações. Países com superávit comercial frente aos EUA ficariam sujeitos a percentuais bem mais altos. A cobrança ampla de 10% está em vigor há meses; as alíquotas superiores, suspensas horas depois do anúncio inicial para negociações, serão aplicadas agora.
Governos como Reino Unido, Indonésia, Filipinas, Japão e União Europeia aceitaram acordos preliminares para evitar tarifas mais salgadas. Esses parceiros pagarão entre 10% e 20% e prometeram abrir mercados a produtos agrícolas e industriais dos EUA, comprar energia e aviões norte-americanos e investir em fábricas no país. Nações que não fecharam entendimento podem enfrentar imposto de até 50%.
Estudo do Yale Budget Lab calcula que a tarifa média cobrada dos consumidores norte-americanos chegará a 18,3%, patamar mais alto desde 1934 e muito acima dos 2,5% registrados quando Trump tomou posse este ano.
Além do pacote global, Washington já elevou tributos sobre aço, automóveis e cobre e impôs sobretaxas a importações de Canadá, México e China, citando participação desses países no fluxo de fentanil para o território americano.
Dados de quinta-feira (31) mostraram aceleração da inflação em junho, sinal de repasse dos novos impostos ao consumidor. No dia seguinte, o governo divulgou forte desaceleração na criação de empregos. Apesar disso, Trump afirmou em rede social: “As tarifas estão trazendo bilhões de dólares aos EUA!”.
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Especialistas contestam. Para Edward Alden, do Conselho de Relações Exteriores, “os Estados Unidos desmontaram o sistema global que criaram, sem nada sólido no lugar”. Já o historiador Douglas Irwin, do Dartmouth College, considera esta “a maior reconfiguração da política comercial americana desde a Segunda Guerra”.
A adoção de alíquotas diferentes por origem tornará o processo de importação mais complexo: um par de tênis vindo do Vietnã, por exemplo, pagará imposto maior que o semelhante fabricado na Itália. Segundo críticos, isso deve encarecer produtos, reduzir competitividade de algumas empresas e tensionar alianças históricas.
Pesquisadores alertam que parte das medidas pode ser derrubada nos tribunais dos EUA, obrigando o governo a rever a estratégia ou buscar nova base legal. Aaron Bartnick, da Universidade Columbia e ex-assessor da Casa Branca, resume: “Para Trump, tarifas viraram martelo para todo prego econômico e político; quem pode pagar a conta são os contribuintes, com preços mais altos e maior volatilidade”.
Com as cobranças prestes a vigorar, o efeito final sobre a economia global e o próprio comércio norte-americano permanece em aberto.
Com informações de Folha de S.Paulo