Em 28 de outubro, durante o primeiro grande encontro da Nvidia em Washington, Jensen Huang, cofundador e presidente-executivo da companhia, relembrou seus tempos de auxiliar de garçom no Denny’s enquanto servia água aos painelistas. Hoje à frente da empresa mais valiosa do mundo, Huang declarou-se “incrivelmente orgulhoso” de colaborar com o governo do presidente Donald Trump e afirmou que pretende ajudar a “reindustrializar a América”.
Pouco depois do discurso, Huang embarcou para a Coreia do Sul para acompanhar Trump antes das negociações comerciais com a China. A aproximação é vista como tentativa de obter apoio do presidente para que Pequim volte a permitir a venda de unidades de processamento gráfico (GPUs) da Nvidia em seu mercado.
Os planos da empresa começam pela fabricação de semicondutores. Nove meses após Trump pedir a Huang o retorno da produção ao território norte-americano, a fabricante taiwanesa TSMC concluiu, em meados de outubro, a primeira bolacha de silício da GPU Blackwell na fábrica que mantém no Arizona. Segundo o executivo, processadores, memória e encapsulamento do modelo também passarão a ser feitos nos Estados Unidos, embora a produção em grande escala ainda deva demorar.
A Nvidia também aposta na robótica. De acordo com Huang, a inteligência artificial permitirá que companhias como a taiwanesa Foxconn ergam plantas totalmente automatizadas em solo americano, operadas por “gêmeos digitais” — simulações virtuais desenvolvidas com tecnologia da empresa. Para enfrentar a escassez de mão de obra, algumas unidades deverão produzir robôs humanoides equipados com IA.
O movimento de reindustrialização não se resume à Nvidia. Em 28 de outubro, James Proud, ex-discípulo do investidor Peter Thiel, anunciou a criação da Substrate, que pretende fabricar, nos EUA, equipamentos de litografia avançada por raios X destinados à produção de chips. A meta é competir com a holandesa ASML, hoje fornecedora exclusiva da tecnologia de ultravioleta profundo usada em semicondutores de última geração.
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A Substrate captou US$ 100 milhões e foi avaliada em US$ 1 bilhão. O plano é abastecer fundições em todo o país, reduzindo a dependência de componentes fabricados em Taiwan. “A maioria acredita que vamos fracassar, mas isso é importante o bastante para tentar”, afirmou Proud.
Especialistas apontam que a repatriação industrial em larga escala ainda enfrenta entraves econômicos. Críticas mencionam a influência direta do presidente nas decisões corporativas, gargalos de infraestrutura e políticas que desestimulam fontes limpas de energia, como a eólica, além das restrições a imigrantes qualificados e não qualificados.
Apesar disso, a proximidade entre o setor de tecnologia e Washington ganhou força à medida que a inteligência artificial passou a depender cada vez mais de hardware, centros de dados e redes físicas. No encerramento de seu discurso, Huang agradeceu ao público “por tornar a América grande novamente”. Um dia depois, em 29 de outubro, a Nvidia alcançou valor de mercado de US$ 5 trilhões, tornando-se a primeira companhia a atingir essa marca.