O movimento de investidores em busca de papéis de renda fixa isentos de Imposto de Renda reduziu o prêmio pago pelo crédito privado a patamares negativos, mostram dados do índice Idex Infra Core, calculado pela gestora JGP.
Segundo o indicador, que compara a taxa real de títulos corporativos atrelados ao IPCA e livres de IR com a de papéis públicos de mesmo prazo, o spread médio chegou a -0,51% ao ano. Desde 2021, essa diferença oscilava entre 0% e 2% ao ano, faixa considerada historicamente adequada para compensar o risco adicional de emprestar a empresas em vez de ao governo federal.
A corrida para aproveitar a isenção fiscal antes de uma possível tributação sobre novas emissões a partir de 2025 fez a demanda crescer mais rápido que a oferta. Com mais compradores do que títulos disponíveis, os prêmios encolheram.
Um título público IPCA+7% ao ano, com inflação projetada de 4,5%, oferece rendimento nominal de 11,8% ao ano. Após a alíquota de 15% de IR, a taxa real líquida cai para 5,3% ao ano. Já um papel corporativo IPCA+6,5% isento, mesmo pagando 0,5 ponto percentual a menos de juro real (spread de ‑0,5%), ainda entrega 1,2 ponto percentual a mais ao investidor, porque não sofre tributação.
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Especialistas alertam que a vantagem tributária não elimina o risco de crédito. Em períodos de estresse ou de normalização do mercado, os spreads costumam voltar a subir. Caso isso ocorra enquanto os juros dos títulos públicos caem, quem comprou papéis corporativos hoje pode registrar perdas na marcação a mercado.
O recado é que a isenção de IR não substitui a análise de solvência das empresas emissoras: quando o prêmio pelo risco fica muito baixo ou negativo, a margem de segurança diminui.