São Paulo – O economista e pesquisador Michael França criticou a celebração de políticos que se declararam satisfeitos com o resultado da operação policial mais letal já registrada no Rio de Janeiro, responsável por cerca de 121 mortes em comunidades da zona norte da capital fluminense.
A reação que motivou a manifestação de França partiu, entre outros, do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Autodeclarado cristão, o parlamentar classificou o saldo da ação como “a maior faxina da história do Rio de Janeiro”.
A incursão, realizada no Complexo da Penha e no Complexo do Alemão, teve como alvo integrantes do Comando Vermelho. Além dos civis mortos, quatro policiais perderam a vida durante o confronto, que incluiu barricadas erguidas por criminosos e uso de drones para lançamento de explosivos.
No texto, França — vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico e formado em economia pela USP — apontou contradição entre o discurso religioso e a exaltação da morte. Segundo ele, a fé cristã prega o amor aos inimigos e o valor intrínseco da vida, princípios esquecidos quando o alvo é rotulado como “bandido”.
O pesquisador avaliou que a operação se transformou em palanque político e que a letalidade foi usada como demonstração de força. Ele também criticou a ausência de estratégias de ocupação duradoura do território e de políticas públicas capazes de garantir segurança permanente aos moradores.
Imagem: drones no RJ via redir.folha.com.br
França destacou ainda que parte da esquerda, na visão dele, limita-se a explicar a violência pela desigualdade social sem oferecer soluções capazes de devolver paz às favelas. Para o economista, nenhuma sociedade civilizada pode normalizar a matança nem recorrer a ela como ferramenta eleitoral.
Ao finalizar, o autor defendeu “Estado presente, políticas integradas e respeito ao cidadão” como condição para reduzir a violência, citando o versículo bíblico “Felizes os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus”.