O mercado de criptoativos voltou a registrar forte pressão vendedora nesta quarta-feira (5). O Bitcoin (BTC) chegou a ser negociado abaixo de US$ 100 mil pela primeira vez desde o início de maio, em meio ao aumento global da aversão ao risco provocado pela instabilidade política nos Estados Unidos e pela incerteza sobre o ritmo de cortes de juros do Federal Reserve (Fed).
Por volta das 13h, a principal criptomoeda era cotada a US$ 103.400, queda de aproximadamente 1% nas últimas 24 horas, segundo a plataforma Coingecko.
Para Taiamã Demaman, analista-chefe da Coinext, a tendência no horizonte imediato continua fragilizada devido à diminuição da força compradora e à disseminação do medo entre os investidores. O especialista pondera que, embora o movimento reacenda dúvidas sobre uma possível mudança de ciclo, ainda não há sinais conclusivos de que o mercado tenha entrado em um novo período de baixa.
No início de outubro, o Bitcoin superou US$ 124 mil, impulsionado pela expectativa de uma política monetária mais branda e por condições de liquidez favoráveis. A sequência de eventos negativos – prolongamento do shutdown nos EUA e a nova rodada de tarifas do ex-presidente Donald Trump contra a China – inverteu o humor. Declarações recentes do presidente do Fed, Jerome Powell, indicando demora maior para flexibilizar juros, somadas à falta de dados econômicos oficiais durante o fechamento parcial do governo, reforçaram o clima de cautela.
De acordo com Demaman, a faixa entre US$ 101 mil e US$ 103 mil é decisiva. Se o BTC permanecer acima desse intervalo, há possibilidade de movimento lateral até o fim do ano. Caso o piso ceda, os próximos objetivos de queda ficam em US$ 97,4 mil e US$ 93,7 mil. Uma perda ainda mais acentuada poderia levar a cotações de US$ 78,7 mil e US$ 70,3 mil, cenário que marcaria o encerramento do atual ciclo de valorização.
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Em sentido oposto, uma reversão técnica começaria a ganhar fôlego caso o ativo encerrasse semanas consecutivas acima de US$ 103 mil, com confirmação apenas se a resistência em US$ 108 mil fosse superada.
Apesar do tom de fraqueza, o analista avalia que o ciclo estrutural ainda não se esgotou. Entre os fatores que podem sustentar o preço estão o fim da paralisação do governo norte-americano, novas sinalizações do Fed, os desdobramentos das políticas comerciais de Trump e o desempenho das gigantes de tecnologia do índice S&P 500, cuja correlação com o Bitcoin permanece elevada.
Após o tombo de ontem (4), os principais índices de ações em Nova York exibem recuperação nesta sessão. Além disso, o BTC se aproxima do limite inferior de sua correlação negativa com S&P 500, Nasdaq e ouro – movimento que, historicamente, tende a se inverter em ciclos de cerca de 60 dias, segundo Demaman. Caso a dinâmica se repita, o ativo pode consolidar suporte na região de US$ 100 mil antes de buscar novo ímpeto, embora uma recuperação mais robusta seja esperada apenas para 2026.