O mercado de crédito privado brasileiro viveu uma inflexão em outubro. Após meses de compressão dos prêmios sobre os títulos públicos, os spreads das debêntures voltaram a abrir e pressionaram a rentabilidade de fundos de renda fixa, principalmente aqueles focados em infraestrutura.
Levantamento do Bradesco BBI aponta que o volume de emissões de debêntures chegou a R$ 59,9 bilhões em outubro, avanço de 21% na comparação com setembro, com destaque para o setor financeiro. Já as emissões incentivadas – isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas e alvo dos fundos de infraestrutura – somaram R$ 16,6 bilhões, recuo de 17% frente ao mês anterior. Mais da metade desse montante foi captada nos últimos dez dias do mês.
Os prêmios de risco dos títulos AAA incentivados, medidos contra papéis soberanos atrelados à inflação, atingiram as mínimas históricas em meados de outubro, mas subiram 50 pontos-base nas semanas seguintes e encerraram o período em –30 pontos-base. No segmento referenciado ao CDI, a alta média foi de 8 pontos-base.
O movimento coincidiu com recorde de negociação no mercado secundário. O volume transacionado alcançou R$ 78 bilhões, 2% acima do registrado em setembro. O número de operações avançou 14%, para 158 mil, enquanto o giro de debêntures incentivadas cresceu 37%, somando R$ 27,7 bilhões.
Entre os destaques, o papel da MetroRio, que captou R$ 2,8 bilhões, movimentou R$ 1,33 bilhão no mês, média diária de R$ 58 milhões.
Segundo a gestora Sparta, os spreads de alguns títulos AAA de prazo longo haviam atingido níveis considerados injustificáveis pelos fundamentos. Quando a correção chegou, formou-se um movimento em “V”, que resultou em retorno negativo para diversos fundos de debêntures incentivadas com hedge, situação rara nos últimos anos.
Imagem: Rarhael Ribeiro via infomoney.com.br
Para o Bradesco BBI, a reação está relacionada às crises de crédito recentes. A Sparta, porém, atribui a mudança a um súbito desequilíbrio entre oferta e demanda: as carteiras dos fundos estavam mais alocadas e com prazos maiores, reduzindo o potencial de novas compras.
Dados preliminares de outubro indicam desaceleração nas captações líquidas diárias dos fundos pós-fixados. Depois de entradas positivas no início do mês, surgiram dias de resgates no fim do período. Historicamente, meses negativos costumam ser seguidos por novas saídas, o que pode forçar a venda de ativos com desconto e ampliar ainda mais os spreads.
Apesar da volatilidade, a Sparta enxerga o momento como possível janela de oportunidade para os fundos de infraestrutura que administra – JURO11, CDII11 e DIVS11. A gestora afirma ter mantido posição cautelosa nos últimos meses e considera que o ponto de virada pode ter ocorrido agora.