São Paulo – 11 de novembro de 2025. Menos sujeitas a burocracia do que as debêntures e isentas de IOF, as notas comerciais vêm se consolidando como instrumento de financiamento para empresas de diferentes portes. Em 2024, foram registradas 207 emissões, alta de 45,7% sobre 2023, movimentando R$ 43,5 bilhões — crescimento de 56%, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
No fim de outubro, a Aguassanta Participações, family office de Rubens Ometto, protocolou oferta de R$ 750 milhões em notas comerciais na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para garantir parte de um aumento de capital de R$ 10 bilhões na Cosan. O movimento ilustra a procura de grandes companhias por captações rápidas destinadas a gestão de caixa, refinanciamento ou aquisições.
Entre outros exemplos recentes, a Pague Menos emitiu R$ 480 milhões em junho de 2025 para amortizar debêntures, enquanto a Lavvi Incorporadora captou R$ 400 milhões e usou os papéis como lastro para Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).
Previsto em lei desde 2001, o instrumento ganhou tração após a Lei 14.195/2021, que extinguiu a necessidade de documento físico e simplificou a emissão. Diferentemente das debêntures, as notas comerciais dispensam registro prévio do ato societário na junta comercial e podem ser aprovadas diretamente pelos órgãos de administração, permitindo o acesso de sociedades limitadas e cooperativas ao mercado de capitais.
Plataformas voltadas ao middle market já observam essa tendência. A Bloxs, especializada em estruturação de dívidas para pequenas e médias empresas, registrou avanço de 40% nas emissões entre 2024 e 2025; as notas comerciais representam 20% desse total. A ausência de IOF torna o custo menor que o de empréstimos bancários, destaca a diretora de originação, Érica Cortiz.
Nos primeiros nove meses de 2025, as notas comerciais somaram R$ 39,3 bilhões, alta de 13,5% frente ao mesmo período de 2024. Gestoras de recursos vêm adaptando regulamentos para comprar o papel, que, segundo o UBS BB, já apresenta liquidez crescente e rentabilidade compatível com o risco de crédito dos emissores.
Imagem: neofeed.com.br
A expectativa de bancos como Santander é que o volume siga em alta, com parte das operações de debêntures migrando para o novo formato, especialmente entre empresas de médio porte e em ofertas distribuídas via crowdfunding, reguladas pela Resolução CVM 88.
Embora ainda predominem entre grandes companhias, as debêntures podem perder espaço em transações institucionais de curto prazo. Para forjar esse caminho, o conhecimento sobre as notas comerciais precisa se disseminar, avaliam executivos do setor.
Procuradas, Aguassanta, Pague Menos e Wine preferiram não comentar. A reportagem não obteve retorno da Lavvi.
Rafael David Del Castilho da Silva
Parece uma boa oportunidade.