São Paulo – Um número crescente de fundos soberanos e de pensão está abandonando a divisão tradicional por classes de ativos e colocando todas as aplicações para competir entre si por retorno e risco. A metodologia, conhecida como Total Portfolio Approach (TPA), pode ser adotada ainda neste mês pelo maior fundo público de aposentadoria dos Estados Unidos.
O conselho do CalPERS (Sistema de Aposentadoria dos Funcionários Públicos da Califórnia) votará na próxima semana se altera a atual Alocação Estratégica de Ativos (SAA, na sigla em inglês) para o TPA. Caso a proposta seja aprovada, o fundo de US$ 587 bilhões passará de 11 referências de desempenho para um único benchmark com 75% em ações e 25% em títulos, além de um orçamento de risco ativo de 400 pontos-base.
Ao apresentar o plano, o diretor de investimentos Stephen Gilmore afirmou que o modelo clássico favorece otimizações dentro de cada classe – o que pode gerar concentração ou excesso de diversificação –, enquanto o TPA otimiza o portfólio como um todo.
Levantamento de 2024 feito pela consultoria Willis Towers Watson e pelo Future Fund da Austrália apontou desempenho anual 1,8 ponto percentual superior dos fundos que usam o TPA em relação aos que mantêm a SAA, considerando um período de dez anos.
Entre as instituições que já aplicam o conceito estão o soberano de Singapura GIC Pte, o próprio Future Fund, o canadense CPP Investments (US$ 522 bilhões) e o Healthcare of Ontario Pension Plan (US$ 88 bilhões).
No modelo ideal, as equipes de investimento compartilham informações livremente, analisam fatores de risco em conjunto e escolhem o ativo – seja ação listada, crédito privado ou infraestrutura – que melhor se encaixa no perfil desejado para o portfólio.
Para Manroop Jhooty, responsável pela Gestão Total de Fundos do CPP, a flexibilidade é a principal vantagem. Em vez de vender participações em private equity quando a alocação ultrapassa o limite, o gestor pode reduzir a exposição em ações listadas, já que ambas respondem a fatores semelhantes.
O sistema também ajuda a identificar concentrações involuntárias. Com o avanço de temas como inteligência artificial, diferentes equipes podem aumentar posições no mesmo setor sem perceber; ao analisar o portfólio integralmente, o TPA sinaliza o excesso de risco.
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Especialistas alertam que a migração exige mudanças de cultura, infraestrutura e governança. Segundo Jayne Bok, chefe de investimentos para a Ásia na WTW, muitos fundos alegam adotar o TPA, mas mantêm práticas da SAA.
Críticos destacam que o modelo clássico oferece responsabilidade clara por classe de ativo, enquanto o TPA demanda maior discricionariedade da equipe. Max Townshend, da britânica Local Pensions Partnership Investments (US$ 36 bilhões), afirma que a SAA, quando bem estruturada, também permite ajustes dinâmicos sem perder a transparência nos resultados.
O New York City Retirement Systems (mais de US$ 300 bilhões) contratou três gestores quantitativos desde 2022 para desenvolver ferramentas que monitoram liquidez, sensibilidade a ações e outros fatores, etapa considerada essencial para avançar rumo ao TPA.
No NZ Super, da Nova Zelândia (US$ 51 bilhões), todos os profissionais começaram como generalistas, mas o crescimento do patrimônio levou à formação de cinco equipes por classe de ativo. O fundo manteve o TPA, mas adicionou uma camada tática que avalia o valor justo de cada posição e procura oportunidades de curto prazo.
Na gestora Ares Management (US$ 596 bilhões), Avi Turetsky avalia que a discussão sobre TPA ainda está nos estágios iniciais e não existe um modelo padronizado, ao contrário do “modelo canadense” ou do “modelo de endowment”.
Embora pontos de vista divergem, os defensores do portfólio total argumentam que a abordagem se adapta melhor a um ambiente marcado por inflação instável e choques geopolíticos – condições que desafiam as premissas de equilíbrio subjacentes à SAA.