O Brasil encerrou o trimestre terminado em setembro com taxa de desemprego de 5,6%, a menor da série histórica. Apesar do resultado, a informalidade permanece próxima de 40% da força de trabalho há dez anos, e a produtividade média dos trabalhadores segue praticamente estagnada.
Segundo a Pnad Contínua do IBGE, 40,8 milhões de pessoas atuam sem vínculo formal. Cálculos do FGV/Ibre indicam que um empregado com carteira assinada produz, em média, quatro vezes mais do que um informal. Mesmo com a criação de 4,6 milhões de postos formais desde 2023, a elevada participação de trabalhadores sem registro segue pressionando a produtividade.
O número de microempreendedores individuais (MEIs) e trabalhadores que atuam como pessoa jurídica (PJs) dobrou em pouco mais de uma década, passando de 3,3% para quase 7% da população ocupada. Para parte dos trabalhadores, o modelo oferece flexibilidade; para outras, é exigência de empresas que buscam reduzir encargos trabalhistas, que podem chegar a 70% sobre o salário.
Levantamento do Ministério do Trabalho mostra que, entre 2022 e julho deste ano, 5,5 milhões de pessoas migraram diretamente da carteira assinada para regimes de conta própria com CNPJ.
Pesquisa Datafolha realizada em junho apontou que 59% dos brasileiros gostariam de trabalhar por conta própria, enquanto 39% preferem ser contratados pelo regime CLT. Para 31% dos entrevistados, ganhar mais é mais importante do que ter carteira assinada.
Em termos de remuneração, quem atua como conta própria com CNPJ recebe, em média, R$ 4.947, contra R$ 3.200 dos empregados formais no setor privado (excluídos trabalhadores domésticos).
Relatos de empresas de agronegócio e varejo à consultoria MB Associados apontam dificuldades crescentes para encontrar pessoal. Na construção civil, canteiros operam com quadro 10% menor que o necessário, segundo o SindusCon-SP. Para suprir vagas, parte do setor recorre à contratação de estrangeiros, principalmente bolivianos e nigerianos, além de ampliar a participação feminina em funções menos pesadas. Salários têm sido reajustados acima da inflação.
Estudo do economista Nelson Marconi, da FGV-Eaesp, mostra que algumas das ocupações que mais criaram vagas entre 2012 e 2024 tiveram queda relativa nos rendimentos, sinalizando possível precarização.
Imagem: redir.folha.com.br
Dados do Observatório da Produtividade Regis Bonelli indicam que a produção por hora trabalhada cresceu apenas 0,3% ao ano nos últimos cinco anos. No mesmo período, a renda per capita avançou 1,7% ao ano, impulsionada pelo aumento da taxa de ocupação, que subiu 1,1% ao ano.
Para a economista Silvia Matos, esse movimento é cíclico. Sem ganhos de produtividade, diz ela, o crescimento da renda per capita não se sustenta no longo prazo.
Especialistas citam o baixo grau de abertura comercial — o país responde por cerca de 1% do comércio mundial — como um dos principais entraves ao aumento de eficiência. A falta de competição externa reduziria o estímulo à modernização das empresas.
O professor José Pastore, da FEA-USP, avalia que a expansão do mercado de trabalho vem sendo alimentada por aumento de despesas do governo, cenário que considera insustentável. Ele estima que o quadro atual possa se prolongar até as eleições de 2026, mas vê risco de reversão caso não haja mudanças estruturais.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o elevado custo da contratação pela CLT estimula empresas e trabalhadores a buscarem alternativas como MEI e PJ, configurando uma “semi-informalidade” que dificulta avanços na produtividade.