Especialistas divergem de Haddad e veem inflação até 0,9 ponto maior com Selic a 12%

Mercado Financeiro14 minutos atrás6 pontos de vista

Oferta - Clique na Imagem

Brasília e São Paulo – A afirmação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que a inflação cresceria apenas 0,20 ponto percentual caso a taxa Selic fosse reduzida de 15% para 12% ao ano foi contestada por economistas que acompanham a política monetária.

Em entrevista publicada na quinta-feira (13), Haddad declarou ter simulado dois cenários – um com juros a 15% e outro a 12% – e obtido diferença de 3,3% para 3,1% na inflação projetada “no fim do horizonte relevante”. Segundo o ministro, os cálculos foram feitos com “modelos respeitados pelo mercado”.

Consultados desde a última sexta-feira (14), a assessoria do ministro não informou quais modelos nem o período utilizado na projeção.

Projeções maiores que as do ministro

Levantamento da reportagem mostra estimativas superiores às citadas por Haddad:

  • Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do IBRE-FGV, calcula acréscimo entre 0,75 e 0,90 ponto percentual no IPCA caso a Selic caia para 12% ao ano. Para ela, o exercício do ministro é um “autoengano”, pois desconsidera canais de transmissão como expectativas, câmbio e credibilidade.
  • Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, usa dados do Relatório de Inflação de junho de 2024 – que atribuem variação de 0,24 a 0,27 ponto na inflação para cada ponto percentual a menos na Selic mantido por quatro trimestres – e projeta elevação de aproximadamente 0,75 ponto percentual com o corte de três pontos.
  • Fabio Kanczuk, também ex-diretor do BC, afirma que o impacto depende do horizonte analisado. No curto prazo, o efeito seria pequeno; em um a dois anos, “fica enorme”.
  • Um economista de banco que prefere não ser identificado indica aumento de 0,82 a 0,90 ponto percentual no IPCA em um ano, com previsão de PIB cerca de 0,70 ponto acima do atual e pressões adicionais sobre câmbio, contas externas e salários.
  • Outro ex-diretor do BC calcula inflação entre 0,90 e 1 ponto percentual maior em até 18 meses, classificando a fala do ministro como “provocação política” ou “imperícia técnica”.

Contexto de metas e tensão institucional

O IPCA acumulou 4,68% em 12 meses até outubro, acima da meta central de 3%, cujo intervalo de tolerância vai de 1,5% a 4,5%. A divergência reforça o atrito entre Haddad e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre o nível atual dos juros.

Especialistas divergem de Haddad e veem inflação até 0,9 ponto maior com Selic a 12% - Imagem do artigo original

Imagem: redir.folha.com.br

Especialistas citam ainda o ambiente fiscal. Embora o BC tenha atuado para conter a alta do câmbio no fim do ano passado, analistas veem a política fiscal como “expansionista”, com crescimento real de 2,5% nos gastos previsto pelo novo arcabouço e ampliação de exceções que pressionam a dívida pública.

Próximos passos no Banco Central

A disputa ocorre a menos de dois meses da saída dos diretores Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro) e Diogo Guillen (Política Econômica), que deixam o BC em 31 de dezembro. Até o momento, o Palácio do Planalto não indicou os substitutos, que precisam ser aprovados pelo Senado.

Fotografia: Ministro Fernando Haddad (esq.) e Gabriel Galípolo em cerimônia do BC, 2.abr.25 – Ueslei Marcelino/Reuters

0 Votes: 0 Upvotes, 0 Downvotes (0 Points)

Oferta - Clique na Imagem

Deixe um Comentário

Siga-nos!
Pesquisar tendência
Redação
carregamento

Entrar em 3 segundos...

Inscrever-se 3 segundos...