Brasília e São Paulo – A afirmação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que a inflação cresceria apenas 0,20 ponto percentual caso a taxa Selic fosse reduzida de 15% para 12% ao ano foi contestada por economistas que acompanham a política monetária.
Em entrevista publicada na quinta-feira (13), Haddad declarou ter simulado dois cenários – um com juros a 15% e outro a 12% – e obtido diferença de 3,3% para 3,1% na inflação projetada “no fim do horizonte relevante”. Segundo o ministro, os cálculos foram feitos com “modelos respeitados pelo mercado”.
Consultados desde a última sexta-feira (14), a assessoria do ministro não informou quais modelos nem o período utilizado na projeção.
Levantamento da reportagem mostra estimativas superiores às citadas por Haddad:
O IPCA acumulou 4,68% em 12 meses até outubro, acima da meta central de 3%, cujo intervalo de tolerância vai de 1,5% a 4,5%. A divergência reforça o atrito entre Haddad e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre o nível atual dos juros.
Imagem: redir.folha.com.br
Especialistas citam ainda o ambiente fiscal. Embora o BC tenha atuado para conter a alta do câmbio no fim do ano passado, analistas veem a política fiscal como “expansionista”, com crescimento real de 2,5% nos gastos previsto pelo novo arcabouço e ampliação de exceções que pressionam a dívida pública.
A disputa ocorre a menos de dois meses da saída dos diretores Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro) e Diogo Guillen (Política Econômica), que deixam o BC em 31 de dezembro. Até o momento, o Palácio do Planalto não indicou os substitutos, que precisam ser aprovados pelo Senado.
Fotografia: Ministro Fernando Haddad (esq.) e Gabriel Galípolo em cerimônia do BC, 2.abr.25 – Ueslei Marcelino/Reuters