Agentes federais cumpriram mandados de busca e apreensão nesta terça-feira (18) para investigar se houve interferência de políticos na decisão do Banco de Brasília (BRB) de adquirir 58% do Banco Master e comprar carteiras de crédito consignado consideradas falsas.
De acordo com pessoas que acompanham o inquérito, há suspeita de que o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, tinha conhecimento da irregularidade e, ainda assim, autorizou a operação estimada em R$ 12,2 bilhões. Desse montante, R$ 6,7 bilhões seriam contratos inexistentes e R$ 5,5 bilhões corresponderiam a prêmios sobre as carteiras.
As transferências teriam começado antes do anúncio de compra do Master, em março deste ano, e prosseguido até maio. Embora operações desse tipo não passem pelo crivo direto do Banco Central (BC), o valor elevado chamou a atenção da autoridade monetária durante a análise da aquisição, posteriormente vetada em setembro.
Investigadores apontam indícios de que o negócio serviu para socorrer o Master, evitando que uma eventual liquidação ou intervenção expusesse seus balanços. A investigação considera improvável que a cúpula do BRB desconhecesse a fraude, já que a compra das carteiras continuou após a aprovação da aquisição do controle do banco de Daniel Vorcaro.
Em nota divulgada à noite, Paulo Henrique Costa afirmou estar à disposição das autoridades e destacou que a compra de carteiras é prática comum no mercado financeiro. Segundo ele, o próprio BRB teria identificado “divergências documentais” nas operações do Master, comunicado o BC e substituído a maior parte dos contratos.
Também nesta terça, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Master, citando grave falta de liquidez, deterioração econômico-financeira e violações às normas do sistema financeiro. A Justiça afastou por 60 dias o presidente do BRB e o diretor financeiro, Dario Oswaldo Garcia Júnior. Após a decisão, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), confirmou a demissão de Costa e nomeou Celso Eloi, superintendente da Caixa em Brasília, para o cargo.
O proprietário do Master, Daniel Vorcaro, foi preso preventivamente na noite de segunda-feira (17), quando se preparava para viajar ao exterior. A Justiça Federal manteve a detenção após audiência de custódia. O sócio Augusto Lima também foi preso.
Imagem: redir.folha.com.br
A decisão do BRB de comprar o Master causou estranheza em março, diante da estratégia agressiva do banco de Vorcaro de vender CDBs com alta remuneração. O empresário ganhou projeção em Brasília ao patrocinar eventos de luxo e aproximar-se de figuras como o senador Ciro Nogueira (PP), o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
O Master também contratou como consultores o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que chegou a organizar encontro de Vorcaro com o presidente Lula (PT).
O BRB declarou que sempre atuou de acordo com as normas de compliance e transparência, enviando informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central sobre todas as operações envolvendo o Master.
Em nota, o Governo do Distrito Federal reforçou seu “compromisso com a legalidade e a transparência” e afirmou que adotará medidas internas adicionais para fortalecer governança, compliance e controles.