Os sinais de nervosismo que atingem os mercados globais começaram a aparecer com mais força no crédito corporativo norte-americano. Prêmios de risco tanto em títulos de grau de investimento quanto em papéis de alto rendimento rondam os maiores níveis em semanas, enquanto investidores reduzem pedidos e emissores recuam diante da menor demanda.
Na segunda-feira (20), compradores cancelaram aproximadamente 40% das ordens em várias ofertas de dívida corporativa depois da divulgação dos preços finais — taxa de desistência incomum para um mercado em que o recuo costuma ficar perto de 20%. Na semana anterior, uma emissão de grau de investimento foi retirada integralmente, ocorrência rara nesse segmento.
No universo de leveraged loans, bancos relatam dificuldade para repassar algumas dívidas ligadas a aquisições. Embora o ambiente não seja de pânico, gestores observam avanço da cautela. O S&P 500 caminhava para o quarto pregão consecutivo de queda nesta terça-feira (21), acumulando recuo de cerca de 3% em relação ao meio da semana passada. Empresas de tecnologia, motor dos ganhos em 2025, lideram as perdas diante do temor de que a inteligência artificial não entregue os resultados esperados.
Segundo estrategistas do Bank of America, companhias conhecidas como hyperscalers já captaram cerca de US$ 121 bilhões em títulos de alta qualidade em 2024, bem acima da média de US$ 28 bilhões dos últimos cinco anos. Desse total, US$ 81 bilhões foram emitidos desde setembro.
O movimento coincidiu com cortes agressivos nas ordens. A Amazon.com Inc., por exemplo, vendeu US$ 15 bilhões em notas na segunda-feira e chegou a receber solicitações que somavam US$ 80 bilhões; após a definição dos rendimentos, o volume caiu para US$ 47 bilhões — retração superior a 40%. Outras três operações registraram reduções semelhantes no mesmo dia.
O próximo teste para o entusiasmo em torno da IA virá na quarta-feira (22), quando a Nvidia Corp. divulgará resultados trimestrais. A leitura do mercado é de que o guidance da companhia poderá servir de termômetro para as expectativas de retorno dos investimentos no setor.
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No segmento CCC — o mais baixo grau dentro do universo de high yield —, o rendimento médio subiu para 10,38% na segunda-feira, pico desde o fim de agosto. O índice Markit CDX North America High Yield recuou para 106,4 pontos, menor patamar desde junho, indicando maior percepção de risco.
Entre operações recentes, a Applied Digital Corp. viu suas notas de US$ 2,35 bilhões com vencimento em cinco anos caírem para cerca de 94 centavos por dólar antes de recuperarem para 96 centavos; a emissão saiu originalmente a 97 centavos.
A despeito dos indícios de fraqueza, o spread médio dos títulos de grau de investimento dos EUA estava em 0,83 ponto percentual na segunda-feira, abaixo da média de 1,17 ponto dos últimos dez anos. Para parte dos gestores, o nível continua insuficiente para compensar o risco em um ambiente de rápida evolução tecnológica.
“Estamos sendo pagos muito pouco pelo spread, então o interesse é limitado”, afirmou Michael Kelly, chefe global de multiativos da PineBridge Investments. “Vivemos em um mundo tecnologicamente turbulento e em mudança acelerada.”