O Banco Master teria vendido ao Banco de Brasília (BRB) carteiras de crédito consignado forjadas no valor de R$ 12,2 bilhões, o que corresponde a 20,8% de toda a carteira de empréstimos do BRB, segundo decisão da 10ª Vara Criminal Federal do Distrito Federal, assinada em 3 de outubro pelo juiz Ricardo Augusto Soares Leite.
As conclusões se baseiam em investigações conduzidas pelo Banco Central (BC), Ministério Público Federal e Polícia Federal. De acordo com os órgãos, as aquisições fraudadas provocaram problemas de liquidez no BRB e violaram exigências do BC sobre a relação entre patrimônio líquido e ativos.
Relatório do BC citado na decisão aponta que o BRB passou a registrar impacto na liquidez a partir do terceiro trimestre de 2024, período em que as compras de carteiras do Master se intensificaram. Para não ultrapassar os limites regulatórios, o banco registrou lançamentos contábeis “sem respaldo documental”, pendência ainda não sanada.
Entre janeiro e maio de 2025, o BRB comprou R$ 12,2 bilhões em consignados do Master. Nesse mesmo período, o BRB informou ao BC carteira de crédito de R$ 58,5 bilhões e ativos totais de R$ 76,1 bilhões.
Na operação descrita pela Justiça, o BRB pagava ao Master no ato da compra. Em seguida, devolvia o valor ao vendedor e recebia novas carteiras ou cotas de fundos, sem retorno efetivo de dinheiro. O BC também detectou, em junho, falta de repasse ao BRB das parcelas pagas pelos tomadores de empréstimo, falha que depois foi corrigida.
Apesar de alertas e pedidos de informação do BC, os repasses continuaram. Entre abril e maio de 2025, as carteiras cedidas somaram R$ 4,05 bilhões, com pagamento adicional de prêmio ao Master.
As carteiras teriam sido compradas pelo Master da consultoria Tirreno e seriam formadas por empréstimos a servidores públicos da Bahia. Porém, a investigação identificou CPFs de várias localidades e ausência de movimentação financeira compatível nas associações de servidores.
No total, R$ 6,7 bilhões em empréstimos seriam inexistentes, enquanto o BRB pagou R$ 5,5 bilhões em prêmio pelas operações.
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A decisão sustenta que o Master buscava inflar seu balanço. A instituição teria emitido R$ 50 bilhões em CDBs, dos quais R$ 12 bilhões estariam descobertos devido a ativos de baixa liquidez. Para cobrir o rombo, associou-se a uma Sociedade de Crédito Direto e revendeu créditos fictícios ao BRB.
As apurações levaram à prisão do controlador do Master, Daniel Vorcaro, na noite de segunda-feira (17), em São Paulo, quando ele se preparava para viajar ao exterior. Um dia depois, o BC decretou a liquidação extrajudicial do banco.
No mesmo dia, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o diretor financeiro, Dario Oswaldo Garcia Júnior, foram afastados por 60 dias.
Em nota, o BRB afirmou manter “solidez financeira” e disse que mais de R$ 10 bilhões das carteiras adquiridas já foram liquidados ou substituídos. O restante, segundo o banco, “não constitui exposição direta ao Banco Master”. A instituição informou ainda que atua como credora na liquidação do Master, reforçou controles internos e que todo o processo foi reportado ao BC.
Nesta quarta-feira (19), a agência S&P Global rebaixou o rating do BRB de “B” para “B-” e sinalizou possibilidade de novo corte, citando preocupações com governança e gestão de riscos após a compra dos créditos do Master.
Desde a liquidação do Master, na terça-feira (18), as ações do BRB acumularam queda de 10,06%. No ano, a desvalorização atinge 4,9%, conforme dados da plataforma CMA.