O economista Samuel Pessôa contestou, em artigo publicado nesta segunda-feira (data original da coluna), a crítica feita por André Lara Resende de que ele teria confundido crédito com poupança ao comparar as situações fiscais do Brasil e do Japão.
Pessôa afirmou que, duas semanas atrás, utilizou um texto de Lara Resende para expor diferenças estruturais entre os dois países e explicar por que o nível de dívida pública tolerado pelo Japão não seria viável no Brasil. Segundo ele, o tema “crédito” não foi abordado naquela ocasião, já que o espaço da coluna exigia foco limitado.
Lara Resende escreveu no jornal Valor Econômico na quarta-feira (19) que Pessôa misturou conceitos. Na resposta, o pesquisador do BTG Pactual e do FGV Ibre reiterou que sua análise tratava exclusivamente da taxa de juro real — não de crédito nem de poupança.
Pessôa retomou princípios da economia clássica, segundo os quais a poupança precede a produção — metáfora das sementes guardadas para a safra seguinte. Em seguida, citou John Maynard Keynes, para quem, em uma economia monetária, o investimento vem antes da poupança porque bancos e Banco Central podem criar poder de compra “do nada”.
Nesse ambiente, explicou, o nível de gasto determina a renda nominal; caso a economia já esteja em pleno emprego, gastos adicionais tendem a gerar inflação, déficit externo ou ambos.
No capítulo 12 da “Teoria Geral”, lembrou o economista, Keynes rejeita a noção neoclássica da taxa de juros e a define como “preço da liquidez”. A corrente convencional — termo usado por Lara Resende — não absorveu essa visão e continua adotando a lógica de Irving Fisher, segundo a qual o juro real mede o preço relativo entre presente e futuro.
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Para Pessôa, sociedades com juros reais de curto prazo elevados costumam exibir baixa poupança, forte crescimento do gasto público e sistemas previdenciários generosos. O contrário vale para países de juros baixos. Juros altos, argumentou, sinalizam excesso de demanda e atuam para equilibrar o mercado.
O “preço da liquidez” aparece, disse ele, no prêmio pago pelo Tesouro ao alongar o prazo de vencimento dos títulos. O investidor exige remuneração maior para títulos mais longos porque pode precisar vendê-los antes do vencimento e, nesse momento, enfrentar preços mais baixos.
Na avaliação de Pessôa, o Brasil reúne as duas condições que elevam os juros de longo prazo: taxas reais de curto prazo altas e prêmio de prazo expressivo, reflexo de risco elevado. Por isso, concluiu, o debate com Lara Resende deve concentrar-se na estrutura do juro real, não em questões de crédito.
Samuel Pessôa é doutor em economia, pesquisador associado ao BTG Pactual e ao FGV Ibre.