O mercado de criptomoedas enfrenta o pior desempenho mensal desde o colapso da stablecoin Terra, em 2022. Na sexta-feira (21), o Bitcoin recuou para a mínima de US$ 80,5 mil (cerca de R$ 434 mil), acumulando perdas que somam aproximadamente meio trilhão de dólares em valor de mercado apenas nesse ativo.
A retração acontece em um momento em que investidores institucionais, trazidos pelo lançamento de fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin, promovem ajustes de carteira. Dados da Bloomberg indicam que, somente em novembro, bilhões de dólares foram resgatados dos 12 ETFs lastreados na criptomoeda, que contam com nomes como o fundo patrimonial de Harvard e diversos fundos de hedge entre os cotistas.
Companhias listadas em bolsa que se especializaram em reter criptoativos — modelo popularizado por Michael Saylor — sofrem saídas ainda mais acentuadas, à medida que o mercado questiona o valor de firmas cujo único ativo relevante são os próprios tokens.
Para Fadi Aboualfa, chefe de pesquisa da Copper Technologies, investidores institucionais “não permanecem posicionados a qualquer custo; eles reequilibram portfólios sempre que necessário”.
Embora o Bitcoin ainda esteja cerca de 50% acima do piso registrado antes da eleição presidencial norte-americana, a correção atual é vista como moderada quando comparada à desvalorização de 75% ocorrida entre 2021 e 2022. Analistas alertam, contudo, que o movimento pode se aprofundar.
O gatilho mais visível para a turbulência recente foi o flash crash de 10 de outubro, quando posições avaliadas em US$ 19 bilhões foram liquidadas em poucas horas. A falta de liquidez típica dos fins de semana e o nível elevado de alavancagem em algumas corretoras derrubaram o preço do Bitcoin de sua máxima histórica de US$ 126.251 para patamares significativamente menores.
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Só na última sexta-feira, outras liquidações somaram US$ 1,6 bilhão, segundo a plataforma Coinglass, atingindo sobretudo investidores alavancados.
O desempenho das criptomoedas também tem oscilado em sintonia com as ações de tecnologia. Na quinta-feira (20), o índice S&P 500 reverteu ganhos intradiários alimentados pelos resultados da Nvidia, movimento atribuído em parte à volatilidade no segmento cripto, de acordo com analistas da Nomura.
O Índice de Medo e Ganância do CoinMarketCap caiu para 11 de 100, faixa classificada como “medo extremo”. Para Chris Newhouse, diretor de pesquisa da Ergonia, a demanda estrutural por Bitcoin no mercado à vista “permanece ausente, deixando o mercado sem compradores naturais durante correções mais fortes”.
No cenário atual, o destino das criptomoedas está cada vez mais ligado ao apetite por ativos de risco alimentado pelo entusiasmo com inteligência artificial. Com rumores de formação de bolha e empresas endividadas em criptoativos, analistas alertam que novos momentos de venda forçada podem ocorrer caso a confiança volte a se deteriorar.