Quase um ano depois de o presidente Donald Trump ter determinado a exploração das “vastas reservas de ouro líquido” dos Estados Unidos, analistas apontam que a produção de petróleo e gás continua próxima dos níveis recordes registrados no governo Joe Biden.
O barril de petróleo, que valia cerca de US$ 75 na posse de Trump, caiu para menos de US$ 60. Ao mesmo tempo, tarifas impostas pelo governo encareceram aço e outros insumos usados na perfuração, dificultando novos investimentos. O aumento observado na extração decorre principalmente de ganhos de eficiência e não se converteu em mais empregos para o setor ou para a economia em geral.
Nos postos, o preço da gasolina recuou brevemente no início do ano, mas ficou longe da redução de 50% prometida durante a campanha. Paralelamente, decisões como manter usinas a carvão em operação, cancelar licenças de parques eólicos offshore e estimular a exportação de gás natural podem ter pressionado as contas de luz e o preço do gás para os consumidores.
Influência política em alta
“A agenda ‘Perfure, baby, perfure’ não se concretizou”, afirmou Kenneth B. Medlock, economista de energia do Baker Institute, da Rice University.
Ainda assim, a influência política da indústria de combustíveis fósseis avançou. Uma ampla lei de política doméstica assinada recentemente pelo presidente já garante quase US$ 6 bilhões em benefícios fiscais neste ano às maiores companhias de petróleo e gás, segundo análise de demonstrações financeiras e registros públicos.
Ao mesmo tempo, Trump trabalha para revogar dezenas de normas ambientais, abriu áreas sensíveis do Alasca — inclusive a planície costeira do Arctic National Wildlife Refuge — à perfuração e prepara a liberação de novas áreas offshore.
Na semana passada, o governo pediu a um tribunal federal que derrubasse limites para a fuligem emitida por usinas e instalações industriais e, na terça-feira (2), adiou por três anos a obrigação de que usinas a carvão tratem resíduos tóxicos.
Acordos internacionais e energia limpa
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O presidente também fechou contratos que obrigam países da Europa e da Ásia a comprar gás natural liquefeito norte-americano por vários anos, dificultou projetos de energia eólica, solar e veículos elétricos e pressionou outras nações a não adotarem regras climáticas que onerem petrolíferas dos EUA.
Durante a COP30, em Belém, enquanto líderes discutiam metas de carbono, Trump recebeu na Casa Branca o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, país que colaborou com Washington para travar acordos climáticos internacionais mesmo planejando diversificar sua economia até 2030.
Debate sobre preços
Taylor Rogers, porta-voz da Casa Branca, atribuiu à estratégia de “domínio energético” de Trump a queda nos preços dos combustíveis e o aumento da segurança energética. Segundo ela, o galão de gasolina custava em média US$ 3,069 na segunda-feira (1º), ante US$ 3,056 um ano antes. Rogers culpou Estados governados por democratas, especialmente a Califórnia, por elevar a média nacional.
Críticos alegam que as medidas do governo ampliaram custos, eliminaram empregos na indústria limpa e colocaram em risco a qualidade do ar e da água. Desde a posse de Trump, contas residenciais de eletricidade subiram 11% e mais de 158 mil empregos em energia eólica, solar e outras tecnologias limpas foram perdidos ou ficaram estagnados após o fim de subsídios da era Biden, de acordo com a organização Climate Power.
Por enquanto, o crescimento expressivo prometido pelo presidente ainda não apareceu nos campos de petróleo do país.