O setor de palestras corporativas vive um ciclo de forte expansão no Brasil, e o empresário Flávio Augusto da Silva — criador da rede de escolas de inglês Wise Up — anunciou que elevará seu cachê para R$ 1 milhão a partir de 2026. Atualmente, ele cobra R$ 590 mil por 60 minutos de exposição e mais R$ 150 mil por uma hora de perguntas e respostas, totalizando R$ 740 mil por evento.
Segundo o empresário, o valor funciona como filtro para administrar a procura, já que sua agenda é limitada por compromissos nas empresas que mantêm cerca de 700 mil clientes ativos. Ele planejava realizar dez palestras em 2025, mas deve encerrar o ano com 18.
Não há estatísticas oficiais sobre o mercado, mas companhias especializadas estimam que ocorram cerca de 300 mil palestras corporativas por ano. Entre 2023 e 2024, o segmento teria avançado aproximadamente 40%, ritmo que se manteve em 2025.
A agência DMT, uma das maiores do país, comercializou cerca de 2 000 apresentações neste ano, informou o CEO Diego Trávez.
O filósofo e professor Mario Sergio Cortella, considerado pelas agências o palestrante mais solicitado, afirma que um quarto de suas participações é realizada sem cachê, em entidades que apoia. O restante custa, em média, R$ 70 mil. O escritório do escritor recebe entre seis e nove pedidos diários, e quase toda a agenda de 2026 já foi reservada.
Cortella observa duas tendências recentes: menos eventos nacionais que reúnem diversos palestrantes e mais procura por temas ligados a religião, espiritualidade e saúde mental, o que ampliou a oferta de profissionais.
De acordo com Dennis Penna, fundador da Polo Palestras, mais de 100 pessoas solicitam cadastro na plataforma todos os meses. Há palestrantes que ultrapassam 200 apresentações anuais. Os valores variam de R$ 1 000 para iniciantes a cifras como as de Flávio Augusto. Penna calcula que a média geral do mercado fique entre R$ 25 mil e R$ 30 mil.
Imagem: redir.folha.com.br
Exemplo da diversidade do setor, o ex-caminhoneiro Silvio Pacheco, 50, migrou para o palco em 2022 com palestras motivacionais sobre comunicação nas empresas e já recebeu R$ 50 mil por evento.
Empresas trocam parte do orçamento destinado a cursos teóricos por iniciativas práticas de desenvolvimento, nas quais as palestras se encaixam. Para o professor da FGV Leandro Guissoni, a habilidade de contar histórias faz diferença na disputa por espaço, e há mais profissionais disponíveis do que contratos lucrativos.
A Motiveação Palestras, que também forma novos talentos por meio de um curso batizado de “MBA do palestrante”, relata que 30% dos clientes pedem nomes famosos, enquanto 70% priorizam perfil e tema, escolhendo entre opções sugeridas de acordo com o orçamento.
Agências identificam ainda uma “supertendência” na contratação de personalidades estrangeiras. Valores para palestras de figuras como o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama ou o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton podem chegar a US$ 10 milhões (aproximadamente R$ 54,4 milhões).
Na avaliação de Flávio Augusto, a lógica segue a do entretenimento: quanto maior a capacidade de atrair público e patrocínio, maior o cachê. O empresário argumenta que, mesmo com a futura cobrança de R$ 1 milhão, suas palestras continuarão abaixo dos valores pagos a artistas consagrados da música nacional.