São Paulo – A Casa dos Ventos assinou nesta quarta-feira (17) contrato de R$ 5 bilhões com a dinamarquesa Vestas para o fornecimento de 184 turbinas que somam 828 MW de capacidade em um novo parque eólico no Piauí.
O complexo será instalado entre os municípios de Dom Inocêncio, Lagoa do Barro e Queimada Nova. A maior parte da energia deverá atender data centers nas regiões Nordeste e Sudeste, além de projetos de hidrogênio verde.
As obras estão previstas para começar em 2026, com comissionamento final em 2028. A Vestas fornecerá os aerogeradores, executará a construção e assumirá operação e manutenção por 25 anos.
O anúncio representa a primeira grande contratação do setor desde 2023, quando a própria dupla firmou acordo de R$ 9 bilhões para instalar 1,3 GW em parques na Bahia e no Rio Grande do Norte. Nos últimos anos, a indústria eólica viu fabricantes deixarem o país em razão do excesso de oferta de energia e da queda nos preços da geração solar.
Terceiro maior gerador eólico do Brasil, o Piauí apresenta ventos superiores a 12 m/s em algumas áreas. Porém, o estado também é o terceiro com mais cortes de energia ordenados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), seja por excesso de geração ou por limitações na rede de transmissão.
Entre 1º de janeiro e 16 de dezembro de 2025, o ONS registrou 415 MWmed de cortes no Piauí; parte ocorreu na região onde o novo parque será erguido, chegando a quase 20% da produção local em determinados pontos de conexão.
Imagem: redir.folha.com.br
A Casa dos Ventos não comentou os impactos dessas restrições. Especialistas do setor alertam que a expansão de data centers pode agravar o excedente de energia se novos parques forem construídos sem escoar a produção já disponível.
Em publicação no LinkedIn, o presidente da Vestas no Brasil afirmou que superar o curtailment é “essencial para garantir previsibilidade, eficiência sistêmica e a captura integral do valor da energia limpa produzida no Brasil”. Segundo ele, a solução exige coordenação entre agentes do setor, planejamento de longo prazo e marcos regulatórios adequados.
Dentro do governo, do ONS e da Aneel, prevalece a posição de que os cortes devem ser considerados risco do investidor, enquanto a indústria eólica defende mecanismos de compensação. Em novembro, o vice-presidente Geraldo Alckmin, no exercício da Presidência, vetou trechos de medida provisória que previam ressarcimento de R$ 7 bilhões pelos cortes.