Brasília – Trinta anos após a assinatura do Acordo Marco Interregional de Cooperação, em Madri, a União Europeia ainda não concluiu o tratado de livre-comércio com o Mercosul, movimento que, segundo ex-diplomatas sul-americanos, mina a confiança no bloco europeu.
Os ex-embaixadores Jorio Dauster (Brasil), Manuel María Cáceres (Paraguai) e Guillermo Valles Galmés (Uruguai) afirmam que França e Itália, presentes à cúpula de 1995, lideram o veto que impede a formalização do pacto.
Firmado em 15 de dezembro de 1995, o acordo de Madri previa uma “associação estratégica” baseada em comércio, diálogo político e cooperação. À época, a Europa respondia por cerca de 30% do PIB mundial; hoje esse percentual caiu para 14%.
De acordo com os diplomatas, os capítulos comerciais foram negociados, revisados e concluídos. O Mercosul aceitou reduzir o acesso de carne bovina ao mercado europeu a 90 mil toneladas anuais – volume descrito pelos autores como “equivalente a um hambúrguer por pessoa por ano”. Mesmo assim, Paris e Roma alegam risco para a agricultura francesa, argumento classificado pelos ex-negociadores como político, não técnico.
O comissário europeu de Comércio, Maroš Šefčovič, declarou ao Financial Times que o trato com o Mercosul é questão de “credibilidade e previsibilidade” e requer “decisão estratégica”. O “Relatório Draghi”, divulgado em dezembro passado, também aponta a dificuldade da União Europeia em tomar decisões conjuntas: a Comissão propõe, mas Estados-membros barram.
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Para os ex-embaixadores, a UE, antes defensora do livre-comércio, passou a atuar de forma defensiva, impondo exigências ambientais, sociais e sanitárias de última hora que desequilibram o texto já pactuado. O prolongado impasse levaria o Mercosul a avaliar alternativas na Ásia-Pacífico, enquanto o bloco europeu arrisca enfraquecer sua imagem de parceiro confiável.
Três décadas depois de Madri, a demora em transformar negociações em um acordo efetivo coloca em dúvida a capacidade da União Europeia de exercer liderança global em um cenário internacional cada vez mais fragmentado.