Empresário da Virgínia monta rede oculta de armas que abastece conflitos patrocinados pelos EUA

Mercado Financeiroagora mesmo6 Visualizações

Virginia Beach (EUA) – Ex-corretor de investimentos e aspirante a jogador de beisebol, Will Somerindyke, 47, transformou uma pequena firma familiar em peça central de uma cadeia internacional de armas utilizada pelos Estados Unidos para municiar conflitos nos quais o país evita envolvimento direto. A reportagem traça o caminho deste empresário, que hoje controla fábricas nos Bálcãs, opera navios de carga próprios e disputa um contrato de US$ 1,7 bilhão com a Ucrânia.

Entrada no setor de defesa

Em 2012, após ter a licença suspensa por infração regulatória no mercado financeiro, Somerindyke registrou a Regulus Global por US$ 35 em Virginia Beach. Nos primeiros meses, ele, o pai e a mãe vendiam óculos balísticos e coldres em feiras de armas. Um ano depois, a receita superou US$ 1 milhão.

A virada veio em 2014, quando o Comando de Operações Especiais do Pentágono buscava munição de calibre soviético para rebeldes sírios. Somerindyke prometeu entregar em menos de 50 dias, contra prazos de seis meses de concorrentes, e embarcou pessoalmente o primeiro carregamento em um jato de carga no Leste Europeu.

Operações de risco

Em junho de 2015, o contratado americano Francis Norwillo, 41, morreu durante treinamento na Bulgária ao manusear um lançador de RPG fornecido por uma cadeia que incluía a Regulus. A viúva processou as empresas envolvidas, alegando que o equipamento, fabricado em 1984, fora rejeitado pelo governo dos EUA por defeito. O caso terminou em acordo.

Apesar do episódio, a Regulus continuou crescendo. Em 2016 faturava US$ 40 milhões e fornecia armamentos para clientes como a Arábia Saudita, então engajada na guerra do Iêmen. Segundo Somerindyke, todas as vendas ocorreram com aval do Departamento de Estado.

Foco na Ucrânia e compra de fábricas bósnias

Horas após a invasão russa de fevereiro de 2022, autoridades de Kiev procuraram a Regulus em busca de munição de padrão soviético. O diálogo evoluiu para um acordo de até US$ 1,7 bilhão com a agência estatal ucraniana de exportação de armas.

Para cumprir o contrato, Somerindyke passou a investir na produção. Em 2024, a Sitko Acquisition LLC – empresa norte-americana sem funcionários públicos conhecidos, ligada ao empresário – começou a comprar participações nas fábricas bósnias Pretis e Binas, equipamentos da era da Guerra Fria capazes de produzir projéteis de 155 mm, “a mercadoria mais desejada do planeta”, segundo ele.

Navios porta-contêineres foram adquiridos para transportar os projéteis dos Bálcãs até a Polônia, e dezenas de milhões de dólares foram aplicados na modernização das linhas.

Disputa judicial e entraves na Bósnia

O relacionamento com Kiev entrou em crise no início de 2025. A Ucrânia afirma ter pago US$ 162,6 milhões antecipadamente e acusa a Regulus de atraso. A empresa responde que o governo não repassou o pré-pagamento de 30% (aproximadamente US$ 500 milhões) previsto em contrato. O impasse segue em arbitragem em Londres.

Paralelamente, a Regulus reclama de falta de acesso a relatórios financeiros da Pretis, atrasos em entregas e “estado desastroso” das fábricas. A companhia pressiona pela troca da diretoria local.

Novo polo no Texas

Em Dallas, Somerindyke dirige a recém-criada Union, fabricante que pretende automatizar a produção de projéteis de 155 mm com engenheiros vindos da Tesla. Embora juridicamente separada, a Union mantém parceria estratégica com a Regulus. A previsão é que o governo dos EUA se torne o principal cliente.

Com pedidos de países europeus destinados a Kiev, a Regulus projeta faturamento de US$ 1 bilhão em 2026, ante US$ 50 milhões antes da guerra.

Riscos políticos

A reeleição de Donald Trump, que prometeu reduzir o apoio militar à Ucrânia, aparece como ameaça ao crescimento da empresa. Mesmo assim, Somerindyke afirma que a simples reposição dos estoques utilizados nos últimos anos garantiria demanda por longo período.

Dois décadas após abandonar o sonho do beisebol, o executivo dirige uma rede de produção, financiamento e logística que opera de fábricas balcânicas a pistas de pouso ucranianas. Para ele, bombas e projéteis continuam sendo “apenas mais um SKU” – linhas de uma planilha em um mercado guiado, sobretudo, por velocidade e volume.

0 Votes: 0 Upvotes, 0 Downvotes (0 Points)

Deixe um Comentário

Pesquisar tendência
Redação
carregamento

Entrar em 3 segundos...

Inscrever-se 3 segundos...

Todos os campos são obrigatórios.