Consultores e analistas do mercado financeiro avaliam que, mesmo após o recuo de algumas empresas em metas ambientais e o incentivo do governo Trump à produção de petróleo, produtos como fundos de investimento sustentáveis (IS), ETFs temáticos e green bonds continuam a oferecer boas oportunidades para quem busca aplicações alinhadas a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG).
Levantamento da Anbima mostra que o patrimônio dos fundos IS atingiu R$ 40,41 bilhões em outubro de 2025, alta de 37% em comparação ao mesmo mês de 2024. A captação líquida desses fundos somou R$ 10,78 bilhões entre janeiro e outubro deste ano. Outros fundos que integram aspectos ESG evoluíram na mesma proporção no período, segundo a entidade.
O head de Captação e Investimentos do Banco do Brasil, Mario Perrone, estima que a instituição alcançará R$ 30 bilhões em fundos sustentáveis até 2030. Ele destaca que a demanda crescente dos investidores, aliada a ciclos ligados à transição energética, infraestrutura e governança corporativa, tem impulsionado essas aplicações. “Os investimentos sustentáveis não são apenas uma tendência, mas uma oportunidade para unir rentabilidade e propósito”, afirma.
Para José Maria Silva, coordenador de alocação e inteligência da Avenue, ETFs temáticos de sustentabilidade representam uma opção acessível ao investidor pessoa física. Esses fundos replicam índices, como o ISE B3, garantindo rentabilidade igual ao desempenho do indicador. Silva também sugere fundos focados em infraestrutura ou transição energética, ressaltando que veículos com exposição a diferentes empresas e setores reduzem riscos de concentração. “Investimentos sustentáveis complementam a carteira tradicional”, diz.
Patricia Ellen, sócia-presidente da Systemiq Latam, aponta os green bonds como alternativa de baixíssimo risco, comparável a CDBs. Segundo ela, esses títulos oferecem retorno financeiro semelhante ao de papéis convencionais, às vezes ligeiramente menor, mas agregam benefícios ambientais e sociais. “O investimento direto nos negócios tem se mostrado bastante competitivo”, acrescenta.
Dados da Moody’s indicam que a emissão mundial de títulos sustentáveis somou US$ 179 bilhões no terceiro trimestre de 2025, queda de 33% em relação ao ano anterior. Apesar do recuo na Europa, na Ásia-Pacífico e na América do Norte, a analista Serena Canjani afirma que esses papéis são fundamentais para financiar a transição energética e projeta crescimento de longo prazo em setores com alta exposição ao risco de carbono.
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A agência calcula que a América Latina precisa de US$ 177 bilhões por ano até 2030 para viabilizar a transição, alertando que, sem esses recursos, a região não atingirá a neutralidade de carbono. “Há uma lacuna significativa de financiamento, o que abre espaço para as finanças sustentáveis”, observa Canjani.
Conforme a Anbima, um fundo IS tem objetivo declarado de proteger ou gerar impactos positivos em questões ambientais, sociais e/ou de governança, sem comprometer o retorno financeiro. Esses produtos trazem o sufixo IS no nome e podem usar termos como “ASG” ou “Sustentabilidade”.
Fundos que apenas integram critérios ESG, mas não possuem investimento sustentável como foco, não podem utilizar o sufixo IS, embora possam incluir a frase “Esse fundo integra questões ASG em sua gestão” em materiais de divulgação. Um mesmo fundo não pode ser simultaneamente IS e integrador de ESG.
O fundo espelho aplica pelo menos 95% do patrimônio em outro fundo. Quando leva o sufixo IS, deve investir em um fundo IS no Brasil ou no exterior.