A renda fixa internacional recuperou o protagonismo em 2025 depois de três anos de menor destaque. Com retornos que chegam a 10% ao ano em dólares, a classe de ativos passou a chamar a atenção em meio ao início, ainda desigual, de um ciclo global de cortes de juros.
De acordo com Luis Oliveira, vice-presidente para América Latina e Caribe da PIMCO, este é o primeiro ano, no período recente, em que os títulos de renda fixa superam claramente o rendimento do caixa. Enquanto aplicações de curto prazo pagam entre 4% e 4,5% ao ano em dólares, fundos e índices de renda fixa apresentam desempenho significativamente superior.
A melhora nos retornos tem levado investidores a rever alocações tradicionais. Oliveira observa maior interesse, sobretudo em estratégias focadas em crédito de alta qualidade. Segundo ele, a combinação de juros elevados, ciclos econômicos desencontrados e maior volatilidade cria um ambiente favorável para a gestão ativa.
Com US$ 2,2 trilhões sob gestão e presença em 24 países, a PIMCO defende a gestão ativa como vantagem competitiva no mercado de renda fixa, estimado em cerca de US$ 150 trilhões. Oliveira destaca que, ao contrário do que ocorre na renda variável — em que perto de 80% dos gestores não superam os índices de referência no longo prazo —, entre 55% e 80% dos gestores de renda fixa conseguem superar seus benchmarks em períodos de três, cinco e dez anos, dependendo do segmento.
O executivo atribui parte desse resultado ao perfil dos investidores na classe de ativos. Aproximadamente 50% deles são considerados “não econômicos” — fundos de pensão, seguradoras e bancos centrais —, que não buscam geração de alfa, o que reduz a concorrência e amplia o espaço para estratégias ativas.
Além disso, o caráter de mercado de balcão e o fluxo constante de novas emissões ampliam as oportunidades. Com vencimento médio de cinco anos, o universo de títulos gira em torno de US$ 30 trilhões por ano, segundo Oliveira.
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Para a PIMCO, o ambiente global passa por mudanças estruturais. Oliveira cita a transição para um mundo mais multipolar e fragmentado, marcada por reconfigurações comerciais e geopolíticas após choques recentes.
Outro ponto de atenção é a situação fiscal de grandes economias. Estados Unidos, França e Japão exibem níveis elevados de endividamento, o que, na avaliação do executivo, limita o espaço para estímulos em futuras crises. Apesar disso, ele ressalta que os bancos centrais ainda dispõem de margem para reduzir juros, caso necessário.
O resultado deve ser um período de maior volatilidade. Entre 2008 e 2020, choques eram suavizados rapidamente pelas autoridades monetárias; agora, a tendência é de oscilações mais intensas.
As declarações de Luis Oliveira foram dadas no podcast Outliers InfoMoney, apresentado por Clara Sodré e Fabiano Cintra.