Com a Selic projetada em 15% ao ano no início de 2026, eleições no horizonte e juros elevados encarecendo o crédito, especialistas em finanças pessoais apontam cinco medidas básicas para quem pretende colocar as contas em ordem e iniciar uma carteira de investimentos no próximo ano.
O primeiro passo, segundo Rafael Costa, fundador da Cash Wise Investimentos, é registrar todas as entradas e saídas de dinheiro. “O que não é medido não é gerenciado”, resume o planejador. A recomendação é anotar desde o salário até rendas eventuais, como trabalhos extras, para identificar gastos excessivos.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro, reforça que abrir uma conta em corretora vem depois do diagnóstico. Já a economista Paula Sauer sugere uma “anamnese financeira” em três frentes: analisar o fluxo de caixa (positivo, neutro ou negativo), calcular o patrimônio líquido (ativos menos dívidas) e avaliar disciplina e tolerância a risco. Para Bruno Perri, economista-chefe da Forum Investimentos, mapear receitas e despesas possibilita prever recursos para antecipar pagamentos ou aplicar.
Com juros de cartão de crédito e cheque especial acima de 350% ao ano, Perri defende a prioridade absoluta do pré-pagamento dos débitos mais caros. Sauer concorda, mas aconselha manter aportes simbólicos para preservar o hábito de poupar.
Patzlaff propõe uma regra prática: se o juro da dívida ultrapassar 3% ao mês, vale quitá-la; abaixo de 1% ao mês, é possível conciliar amortização e investimento. Costa sugere direcionar 80% da poupança mensal a dívidas e 20% à construção de reserva.
Diante da expectativa de volatilidade, a reserva ideal varia de seis a 12 meses do custo de vida, apontam os especialistas. Servidores públicos, com renda mais estável, podem optar pelo piso; autônomos, que têm receita variável, devem mirar um ano inteiro de despesas.
A prioridade é segurança: Tesouro Selic, CDBs de liquidez diária de bancos sólidos e fundos DI sem taxa de administração figuram entre as principais indicações.
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Com a Selic em dois dígitos durante 2026, produtos de renda fixa tendem a permanecer atrativos. Perri cita Tesouro Selic, títulos IPCA+ e CDBs de boa qualidade como opções conservadoras. Patzlaff avalia que o patamar elevado da taxa básica favorece o investidor iniciante.
Para diversificação, Costa recomenda dolarizar parte do patrimônio por meio de ETFs, como o IVVB11, que replica o S&P 500. Patzlaff acrescenta ações de setores considerados defensivos, como financeiro e saneamento básico, para quem deseja exposição à Bolsa.
Planilhas e aplicativos ajudam a registrar gastos e acompanhar o orçamento. Com esse controle, o cartão de crédito deixa de ser vilão e vira aliado, segundo Costa, que sugere concentrar despesas no plástico para gerar milhas ou cashback.
Sauer ressalta que a ferramenta só funciona se usada com regularidade: “Não adianta ter uma planilha sofisticada sem o hábito de atualizá-la”, afirma. A recomendação é incluir o acompanhamento financeiro na rotina, como um “ritual de cuidados” com as finanças.
Seguindo essas etapas — diagnóstico, quitação de dívidas, formação de reserva, escolha de produtos adequados e disciplina de acompanhamento — o investidor ganha base para atravessar 2026 e os anos seguintes de forma mais segura.