As ações dos Estados Unidos tiveram desempenho inferior ao de outras grandes praças mundiais em 2025, cenário raro que levou gestores a reduzir a exposição ao mercado americano e ampliar apostas em bolsas da Ásia e da Europa.
Até o encerramento dos negócios desta segunda-feira (29), o S&P 500 acumulava alta de 17,4% no ano, enquanto o MSCI All Country World ex-EUA avançava 29% — maior diferença desde a crise financeira global de 2009.
Analistas atribuem a defasagem a três fatores: avaliações consideradas elevadas das big techs dos EUA, o impacto das tarifas comerciais anunciadas pelo presidente Donald Trump em abril e o avanço chinês em inteligência artificial.
“As ações americanas estão caras, o crescimento pode ser desafiado e quase todo mundo já tem grande exposição aos EUA”, disse Matthew Beesley, presidente-executivo da Jupiter Asset Management, que descreveu sua estratégia para 2026 como “qualquer coisa, menos América”.
O movimento de diversificação ganhou força após a startup chinesa DeepSeek apresentar, em janeiro, um modelo de IA de grande escala capaz de rivalizar com produtos americanos a custo menor. O episódio provocou queda de 17% nas ações da Nvidia em um único pregão; mesmo assim, a empresa se recuperou e, em outubro, tornou-se a primeira do mundo a atingir valor de mercado de US$ 5 trilhões.
Impulsionados pela novidade, o MSCI China sobe 29% no ano e o Hang Seng, de Hong Kong, 28%. Na Coreia do Sul, o Kospi avança mais de 75%, com Samsung e SK Hynix saltando 124% e 268%, respectivamente.
“Há necessidade clara de espalhar o risco”, afirmou Niamh Brodie-Machura, diretora de investimentos em ações da Fidelity International. “Muitos investidores estão reavaliando a alocação geográfica após os grandes acontecimentos do último ano.”
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O pacote fiscal “custe o que custar” anunciado pela Alemanha elevou as projeções de crescimento e ajudou o índice Dax a superar o S&P 500. Outros mercados europeus também reagiram: o espanhol Ibex 35 sobe 48% e o grego Athex, 44%.
Para Mislav Matejka, chefe de estratégia de ações globais e europeias do JPMorgan, “por anos os Estados Unidos foram a única história relevante; agora, é hora de se posicionar para uma ampliação de desempenho em escala internacional”.
O MSCI de emergentes acompanha o movimento, com alta de quase 30%, impulsionado também pela desvalorização do dólar.
Com valuations ainda questionados nos EUA e a persistência dos efeitos da guerra comercial, gestores afirmam que 2025 marcou uma virada na composição dos portfólios globais, que passaram a refletir um cenário de ganhos mais pulverizados entre diferentes regiões.