Brasília – A tentativa de uma comitiva brasileira de sensibilizar autoridades norte-americanas a suspender a nova tarifa de 50% sobre o açúcar terminou sem avanços e deixou “sentimento de frustração”, relatou o presidente da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), Renato Cunha.
O executivo, que também dirige o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), acompanhou nesta semana senadores de diferentes correntes políticas em Washington. O grupo reuniu nomes da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS), Nelsinho Trad (PSD-MS), Rogério Carvalho (PT-SE), Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL), Esperidião Amin (PP-SC) e o astronauta Marcos Pontes (PL-SP).
Segundo Cunha, o governo dos Estados Unidos não abriu espaço para reuniões técnicas e concentrou o tema no gabinete do presidente Donald Trump. “Não houve agenda oficial, ficamos sem interlocução”, afirmou, ao embarcar de volta ao Brasil.
O Nordeste, onde atuam 38 usinas representadas pela NovaBio, gera 270 mil empregos formais em 250 municípios e responde por 3,7 milhões de toneladas das 44 milhões produzidas pelo país. Cunha teme dispensas, embora o impacto ainda não tenha sido quantificado. “Vai diminuir muito o atrativo”, disse.
Até março, o Brasil podia exportar 150 mil toneladas de açúcar por ano aos EUA com alíquota zero; volumes excedentes pagavam até 80%. Em abril, foi criado imposto de 10%, agora elevado para 50% a partir de 1º de agosto. Levantamento mostra que quase 60% do valor importado pelos norte-americanos do Brasil será atingido.
Além do açúcar, carnes, café, pescados e frutas integram a lista dos setores mais afetados. A união de parlamentares governistas e oposicionistas na viagem provocou críticas de lideranças rurais ligadas ao bolsonarismo. Para o presidente da União Democrática Ruralista, Nabhan Garcia, a missão expôs os senadores a um desgaste “sem resultados”.
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O decreto assinado por Trump entrará em vigor em uma semana e prevê exceções para determinados alimentos, minérios e produtos de energia e aviação civil. A Casa Branca afirmou que a medida responde a “políticas e ações” do governo brasileiro que ameaçariam a segurança e a economia dos EUA, citando o nome de Jair Bolsonaro e alegada perseguição judicial no Brasil.
Apesar do revés, Cunha declarou que o setor seguirá buscando diálogo: “Não adianta chorar. Vamos negociar com altivez e segurança”.
Com informações de Folha de S.Paulo