A taxa básica de juros (Selic) em 15% tende a permanecer elevada no Brasil até que a inflação retorne ao centro da meta, afirma o economista Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral. Para ele, a ausência de coordenação entre política fiscal e política monetária é o principal obstáculo.
Zeidan lembra que, nas últimas décadas, o país delegou ao Banco Central a tarefa de controlar a inflação, enquanto Executivo e Congresso resistem a limitar despesas públicas. O resultado é um cenário em que o aperto monetário ocorre sem ajuste fiscal correspondente.
O economista descreve quatro arranjos possíveis entre política fiscal e monetária:
1. Austeridade fiscal e juros altos – utilizada em crises severas de credibilidade, como no Plano Real (Brasil), no Plano Shekel (Israel) e na tentativa recente da Argentina de conter inflação. Em Israel, o déficit caiu de 17% para 9,5% do PIB em poucos meses nos anos 1980; na Argentina, Luis Caputo entregou superávit de 0,3% do PIB em 2023, apesar do aumento da pobreza.
2. Austeridade fiscal e juros baixos – aplicada quando o governo quer sinalizar responsabilidade, permitindo a redução dos juros. Noruega, Singapura e Suíça adotam essa estratégia, registrando superávits de 13,2%, 0,58% e 0,4% do PIB, respectivamente, em 2024.
3. Gastos elevados e juros baixos – medida de exceção para crises agudas. Durante a pandemia de Covid-19, diversos países combinaram forte expansão fiscal com taxas próximas de zero.
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4. Gastos elevados e juros altos – considerada a pior das opções, pois o aumento dos juros eleva o custo da dívida ao mesmo tempo que o déficit cresce. Segundo Zeidan, essa escolha tem sido frequente em diferentes governos brasileiros.
Zeidan cita episódios que reforçam a necessidade de coordenação. Nos Estados Unidos, o então presidente do Federal Reserve, Paul Volcker, elevou os juros a 20% no início dos anos 1980 após o Congresso resistir a cortes de gastos. Em 2022, a premiê britânica Liz Truss perdeu o cargo ao propor aumento do déficit em meio a pressões inflacionárias. Já em 2024, o Federal Reserve voltou a subir juros a patamares não vistos desde 2000.
Para o economista, enquanto o Brasil mantiver política fiscal expansionista combinada a juros elevados, o país enfrentará custos crescentes da dívida pública e crescimento limitado.
Com informações de Folha de S.Paulo