São Paulo – O economista Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, afirmou que eventuais pacotes de ajuda do governo federal às empresas prejudicadas pelas novas tarifas dos Estados Unidos seriam, na prática, financiados pelos contribuintes e deveriam ser revistos.
Em artigo publicado em agosto de 2025, Mendes argumenta que subsídios custeados pelo orçamento público acabam bancados inclusive por famílias de baixa renda, que já pagam tributos sobre itens básicos. Para ele, companhias que concentraram vendas em um único mercado assumiram o risco da baixa diversificação e não deveriam transferir eventuais perdas à sociedade.
Segundo Mendes, o impacto das sobretaxas se concentra em municípios dependentes de uma ou poucas empresas exportadoras. Por isso, ele propõe que governos estaduais e prefeituras conduzam medidas pontuais, adequadas às realidades locais. O economista sugere, por exemplo, usar emendas parlamentares para financiar iniciativas regionais, como a compra de alimentos não exportados para abastecer merendas escolares.
Mendes destaca que trabalhadores formais dessas empresas já contam com seguro-desemprego, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e multa em caso de demissão sem justa causa. Na visão dele, o principal foco deveria ser a flexibilização temporária dos contratos de trabalho, modelo aplicado durante a pandemia de Covid-19.
O pesquisador lembra que fundos garantidores criados na crise sanitária ‒ FGO e FGI-Peac ‒ ainda viabilizam empréstimos com juros reduzidos, que somaram R$ 103 bilhões em 2024, o equivalente a 0,9% do PIB. Caso surjam novas linhas para enfrentar o tarifaço, ele defende a redução das operações já existentes.
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Para Mendes, declarações de autoridades de que o pacote “não terá impacto primário” não esclarecem o efeito sobre a dívida pública. Ele afirma que mecanismos como crédito subsidiado ou renúncia de impostos elevam a dívida, e o uso de recursos de fundos privados ou despesas extraorçamentárias apenas reduz a transparência.
O economista sustenta que a reabertura de negociações comerciais com a União Europeia poderia ter avançado a diversificação de destinos das exportações brasileiras, servindo como “seguro efetivo” contra choques tarifários. Para ele, ao priorizar a proteção de fornecedores internos do Sistema Único de Saúde (SUS), o governo atrasou esse processo.
Mendes também adverte que benefícios fiscais criados como medidas emergenciais tendem a se tornar permanentes, citando como precedentes a desoneração da folha de pagamentos e o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).